Os especialistas ouvidos pelo Banco Central no Boletim Focus elevaram, pela quarta semana seguida e pela 16ª vez no ano, as projeções para a inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) neste ano. A alta foi pequena, de 5,01% para 5,04%, mas a expectativa está cada vez mais distante do centro da meta (3,75%,), definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). E reforçou a convicção de que o banco Central deve elevar a taxa básica de juros, nesta quarta-feira, em 0,75 ponto percentual, para 3,50% ao ano.
Inflação e juros em alta são o reflexo de que a situação no país se mantém fora dos trilhos e que as incertezas e desconfianças dos investidores em relação ao equilíbrio fiscal e ao controle da pandemia não recuaram. Se, por um lado, o cenário doméstico não ajuda, por outro, as notícias vindas do exterior — com o avanço da atividade nos países desenvolvidos e a expansão dos gastos — aprofundam ainda mais as dificuldades internas. “É a tempestade perfeita, que vem sendo agravada pela desvalorização do real ante o dólar”, diz Carlos Pedroso, economista-chefe do Banco MUFG Brasil.
Pedroso lembra que o preço da gasolina explodiu: já subiu 18%, em 2021. “Mas outros itens também interferiram na inflação, como o trigo, entre outros alimentos. É por isso que o Banco Central tem que se preparar, já que as expectativas são de melhora no crescimento no segundo semestre, com mais emprego, mais renda, mais consumo e, claro, mais inflação”, afirma. O economista prevê que os juros encerrem 2021 em 5,5% ao ano.
Para que esse patamar se concretize, o BC terá que dar um impulso nos juros, com alta, nessa quarta, de 0,75 ponto percentual; mais três seguidas de 0,50 ponto percentual; e mais duas de 0,25 ponto percentual. “Medidas que devem estar aliadas ao maior controle da pandemia no segundo semestre, avanço nas reformas e maior rigor no controle fiscal”, reforça Pedroso.
Flavio Serrano, economista-chefe da Greenbay Investimentos, reforça que a inflação, no curto prazo, vai continuar pressionada pelo aumento do preço da energia elétrica, dos preços administrados e das commodities (mercadorias com cotação internacional). “Se, em abril, o IPCA ficou em 0,60%, em maio deverá se situar em 0,70%. A partir do segundo semestre, a tendência é de que a inflação vá para o centro da meta. Mas vai depender do BC. De três altas consecutivas de 0,75 ponto percentual nos juros”, diz Serrano.
Na análise de Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos, o BC “tem que se mostrar austero”, diante da elevação dos preços dos combustíveis e dos alimentos — além de produtos como minério de ferro e artigos de residência. “Os juros sobem, enxugam a liquidez, o consumo fica mais caro e os investimentos, mais atrativos. Mas essa também é uma política perigosa, diante das dúvidas sobre a saúde fiscal do país e do andamento das reformas estruturais. Precisamos restabelecer a confiança. Há muitos receios no ar, principalmente em relação à política”, diz Sanchez.
O economista Cesar Bergo, sócio-investidor da Corretora OpenInvest, assinala que, apesar do contexto de insegurança, o IPCA-15 (prévia da inflação) veio abaixo das expectativas (0,60% em abril). “Pode ser uma demonstração de que os juros tendem a cair. Mas os sinais estão trocados. O que mais preocupa é o IGPM (32,02% nos últimos 12 meses encerrados em abril), que se descolou do IPCA. Se o IGPM, que mede os preços no atacado subiu tanto com a economia fraca, uma hora isso vai se refletir no varejo, por meio de repasse de preços”, observa Bergo.