A recente queda do dólar, que nos últimos dias oscilou entre R$ 5,20 e R$ 5,30 tem animado quem planeja viajar para fora do país quando a vacinação da maioria da população for uma realidade. Contudo, analistas ouvidos pelo Correio avaliam que a divisa norte-americana continuará valorizada e voltará a subir, podendo encerrar o ano acima das previsões mais conservadoras para dezembro, de R$ 5,40.
De acordo com os analistas, existem dois motivos fortes para que a divisa norte-americana não fique abaixo de R$ 5 neste ano e, muito menos, no ano que vem. O primeiro é o aumento das incertezas em relação às contas públicas do país. A desconfiança no discurso do governo em relação às reformas aumentou após a aprovação, pela Câmara dos Deputados, da medida provisória da privatização da Eletrobras. O texto veio cheio de “jabutis” — acréscimos que nada têm a ver com o propósito da matéria — que podem aumentar o custo da energia e os riscos de inflação.
O segundo motivo é a ameaça de aumento dos juros nos Estados Unidos, como reação às pressões inflacionárias desencadeadas pelo rápido crescimento da economia do país — o maior do mundo neste ano. O Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA) sinalizou, na última quarta-feira, que começa a avaliar uma mudança na condução da política monetária, o que deve afetar a economia de países emergentes, como o Brasil.
A interpretação dos especialistas foi que o Fed está ficando menos leniente com a inflação, podendo sinalizar, nas próximas reuniões, a data em que vai começar, primeiro, a reduzir os US$ 120 bilhões que vem injetando mensalmente na economia e, na sequência, elevar os juros básicos, atualmente entre zero e 0,25% anuais.
A expectativa dos analistas é de que o novo direcionamento do Fed será informado ao mercado no fim deste ano. Como consequência, o dólar — que vem caindo devido à entrada líquida de US$ 12,2 bilhões de capital estrangeiro no Brasil desde o início de 2021 —, voltará a subir quando esse fluxo mudar de direção.
Riscos
Embora, a curto prazo, a tendência seja de queda no dólar, não há certeza de que as pressões inflacionárias atuais são temporárias, tanto aqui quanto nos EUA, de acordo com os analistas. Além disso, há outros riscos envolvidos.
“O próximo ano é de muita incerteza devido às eleições, o que fará o câmbio oscilar bastante, especialmente. Não estamos muito otimistas em relação a 2022”, disse Roberto Padovani, economista-chefe do Banco BV, que considera R$ 5,60 para o dólar no ano que vem, uma previsão conservadora.
Apesar das previsões de que a dívida pública bruta do país, neste ano, será menor do que a do ano passado, há um consenso de que ela voltará a crescer em 2022, o que ajudará a manter o dólar acima de R$ 5, de acordo com o economista-chefe da MB Associados, Sergio Vale.
Pelas estimativas dele, a dívida pública bruta chegará a 92% do PIB em 2022. Vale observar que a valorização da divisa americana “ganhou um componente de risco relacionado à deterioração das contas públicas (brasileiras)”. Nas contas dele, se o endividamento estivesse estacionado em 77% do PIB, o dólar, hoje, estaria em R$ 4,71. “A taxa de câmbio está muito atrelada à evolução da dívida pública e ela dará o tom da tendência do dólar nos próximos anos”, disse.
O ex-diretor do Banco Central e economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), Carlos Thadeu de Freitas Gomes, e Guilherme Martins, economista sênior do Itaú Unibanco, reforçaram o raciocínio. “A maior ameaça no ano que vem é a gastança e tudo indica que ela vai aumentar com as eleições” disse Gomes. “Para o real se valorizar mais, será preciso uma agenda de reformas mais robusta e mais clara. Há coisas positivas, mas ainda há muitas dúvidas se realmente haverá avanços”, acrescentou Martins.
Notícias pelo celular
Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.
Dê a sua opinião
O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.
Arrecadação bate recorde em abril
A Receita Federal registrou aumento real (descontada a inflação) de 45,2% na arrecadação tributária de abril, na comparação com o mesmo mês de 2020, totalizando R$ 156,8 bilhões, conforme dados divulgados ontem pelo Fisco. Foi o melhor resultado da história para o mês desde o início da série iniciada em 1995. O valor ficou acima das previsões do mercado, que giravam em torno de R$ 140 bilhões.
O volume recolhido pelo Fisco foi o segundo melhor do ano, abaixo apenas dos R$ 184 bilhões de janeiro, em valores atualizados pelo Índice de Preços ao Consumidor (IPCA). No acumulado de janeiro a abril, a arrecadação cresceu quase 14% na comparação com 2020, somando R$ 608,5 bilhões, o melhor valor da série histórica atualizada pelo IPCA.
Os dados surpreenderam o mercado, e até o ministro da Economia, Paulo Guedes, que comemorou o resultado e ainda parabenizou os funcionários da Receita Federal durante a apresentação da análise do Fisco. Segundo ele, foi “uma surpresa extraordinariamente positiva”. “A arrecadação é uma proxy para a recuperação da atividade e das empresas. A economia brasileira está acelerando. Temos visto revisões das projeções de crescimento da economia para cima”, disse o ministro.
Guedes citou as recentes revisões do mercado que elevaram as estimativas de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) deste ano, mas reconheceu que, para elas serem confirmadas, é importante o sucesso da vacinação em massa. Nesse sentido, garantiu que a produção nacional será completa “em poucos meses”.
Recolhimento
O chefe do Centro de Estudos Tributários e Aduaneiros da Receita, Claudemir Malaquias, reconheceu que parte do forte crescimento da arrecadação de abril foi reflexo do adiamento do recolhimento dos impostos durante a pandemia no ano passado. A diferença no diferimento de tributos chegou a R$ 24,4 bilhões, praticamente a metade dos R$ 43,2 bilhões de incremento nas receitas administradas pelo Fisco sobre o mesmo mês de 2020, somando R$ 142,9 bilhões. Segundo Malaquias, mesmo descontado o diferimento e outros itens que não foram recorrentes, houve crescimento na arrecadação e, portanto, o resultado de abril “é positivo e consistente”.
Diante do resultado de abril, Fabio Klein, economista da Tendências Consultoria, ratificou a projeção para o ano, que era de R$ 1,606 trilhão. “O número final deve ficar entre R$ 1,640 trilhão a R$ 1,670 trilhão. Esse intervalo na projeção final ainda reflete a incerteza quanto à consistência do desempenho da atividade econômica nos próximos meses, principalmente, considerando os impactos da nova onda da pandemia”, destacou.
André Perfeito, economista-chefe da Necton Investimentos, destacou que a arrecadação já está um patamar acima do início da crise no acumulado em 12 meses, somando R$ 1,579 trilhão. “Os dados sugerem, em parte, a retomada da economia e vem se somar a outros indicadores melhores no mês de abril indicando um segundo trimestre mais robusto”, afirmou. (RH)
DÃvida com desconto
O governo dará desconto de até 50% para empresas e pessoas físicas com dívidas tributárias relativas a contribuições incidentes sobre participação de lucros e dividendos (PLR). A Receita Federal e a Procuradoria Geral da Fazenda Nacional (PGFN) lançaram o programa que, pela primeira vez, inclui débitos que não estão inscritos em dívida ativa.
Os devedores terão que pagar de entrada 5% do débito e poderão parcelar o restante — quanto maior o número de parcelas, menor o desconto. Para abater 50% da dívida, o contribuinte tem que pagar o montante devido em sete meses. Quem parcelar em 31 meses terá desconto de 40% e, o contribuinte que pagar em 55 meses, de 30%.
As adesões começam no dia 1º de junho e vão até 31 de agosto de 2021. Para participar, o devedor tem que desistir de recursos administrativos ou judiciais em relação aos débitos inscritos no programa.
De acordo com a PGFN, há processos no âmbito administrativo e tributário que questionam débitos tributários relacionados ao pagamento de PLR no valor de R$ 12,5 bilhões. Não há estimativa de quanto a União arrecadará com o novo programa.