Afetadas pelo recrudescimento da pandemia de covid-19, as vendas do comércio varejista recuaram 0,6% em março, na comparação com fevereiro, conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O resultado, entretanto, foi melhor do que as previsões do mercado, que estimavam queda entre 5% e 6%. Na comparação com março de 2020, o volume de vendas avançou 2,4%, acumulando perda de 0,6% no ano, na série com ajuste sazonal.
Apesar de apresentarem queda menor do que a esperada, os dados não merecem comemoração, de acordo com especialistas ouvidos pelo Correio. Segundo eles, os indicadores do varejo ampliado, que inclui o comércio de veículos, motos, peças e partes e de materiais de construção, mostram retração mais expressivas, com recuo de 5,3% em março, em relação a fevereiro
Conforme os dados do IBGE, a queda no volume de vendas de março foi generalizada, pois houve desempenho negativo em sete dos oito segmentos, com os setores de tecidos, vestuário e calçados (-41,5%) e de móveis e eletrodomésticos (-22%), liderando as quedas.
Apenas o setor de hipermercados e supermercados, que responde praticamente pela metade do comércio nacional, apresentou crescimento, de 3,3%. Contudo, esse desempenho não é sinal de uma recuperação robusta da economia, de acordo com o economista sênior da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), Fabio Bentes.
O ramo de hipermercados evoluiu porque os preços de alimentos e bebidas acabaram ficando estáveis em março, com variação de 0,1%, o que ajudou a minimizar o impacto da forte queda, de 40%, na circulação de consumidores. “O desempenho positivo não é uma melhora da atividade, mas um fator pontual para esse segmento mais essencial. Os demais setores, conhecidos como não essenciais, como vestuário, móveis e eletrodomésticos, apresentaram queda bastante significativa”, destacou Bentes.
No acumulado em 12 meses encerrados em março, o comércio varejista apresentou alta de 0,7%, conforme os dados do IBGE. A média móvel trimestral até março apresentou queda de 0,1%, dado 1,9 ponto acima dos três meses encerrados em fevereiro, quando houve recuo de 2%. Fabio Bentes lembrou que, na comparação com o último trimestre de 2020, o recuo do varejo, de 4,2%, foi “o segundo pior da história”, atrás apenas do verificado no segundo trimestre de 2020, quando o tombo foi de 8,9%.
De acordo com o economista-chefe da MB Associados, Sergio Vale, a queda forte do varejo ampliado foi puxada pelo recuo de 20% na venda de automóveis. Ele sinalizou que pode rever a previsão de retração do PIB do primeiro trimestre de 2021 com os dados apontando uma queda mais leve. “A tendência é de estagnação”, informou.
Os dados de abril devem continuar fracos, apesar de algum avanço na vacinação, na avaliação de José Francisco Lima Gonçalves, economista-chefe do Banco Fator. “As expectativas para a atividade nos próximos meses são de leve melhora em relação ao quadro inicial. O mês de abril certamente trará um desempenho fraco, apesar de algum avanço na vacinação”, avaliou.
Fabio Bentes, da CNC, também reconheceu que, como o processo de vacinação continua lento e o Ministério da Saúde tem revisado para baixo o número de vacinas compradas, o processo de retomada esperado para o segundo semestre pode ser prejudicado. “Se a vacinação for bem sucedida e der conta da pandemia, o cenário para o segundo semestre será mais positivo. Mas ainda há incertezas sobre a quantidade de vacinas que o governo conseguirá disponibilizar para a população. Por isso, ainda não é possível cravar uma aceleração mais forte”, alertou.
O economista acrescentou que, devido às incertezas nesse cenário, as previsões de crescimento de 3,3% para o volume de vendas no comércio da CNC estão mantidas. “A nova rodada do auxílio emergencial vai ter um impacto limitado no consumo. Além disso, as famílias estão mais endividadas”, alertou. Conforme dados do Banco Central, 31% do orçamento das famílias está comprometido com dívidas, volume acima do recorde anterior, de 28%, contabilizado no fim de 2020.
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Produção de carros cai em abril
As montadoras instaladas no país produziram 175.942 carros de passeio e comerciais leves em abril. O resultado ficou 5,3% abaixo do obtido em março e reflete a paralisação pontual de fábricas por conta de problemas na cadeia de componentes desencadeados pela pandemia de covid-19. O setor registrou, ainda, uma queda de 7,5% nas vendas em relação ao mês anterior.
Luiz Carlos Moraes, presidente da Anfavea, a associação que reúne os fabricantes do setor, afirmou que, apesar de todas as dificuldades provocadas pela segunda onda da pandemia e dos gargalos na produção, a indústria automobilística mantém um bom ritmo de atividades. “Considerando tudo o que estamos enfrentando, avalio que é um número muito razoável”, disse.
Moraes avaliou que o cenário atual é diferente do verificado em abril do ano passado, marcado pela interrupção generalizada da produção em todo o país. Embora o risco de longas paradas esteja descartado no setor, a situação ainda é de instabilidade e deve seguir assim até o segundo semestre. “Temos, atualmente, paradas pontuais provocadas pela falta de um ou outro componente, principalmente de semicondutores. As empresas estão trabalhando para resolver isso com as matrizes e fornecedores. Mas é um problema global”, ressaltou.
Segundo a Anfavea, a comparação de números com abril de 2020 é “descabida”, pois aquele foi o mês da paralisação geral das fábricas e concessionárias.
A Anfavea estima para este ano crescimento de 15% nas vendas, 25% na produção e 9% nas exportações. A entidade reforça a necessidade de políticas que permitam aumentar a competitividade da indústria automobilística brasileira no mercado externo.
Apesar de ter fechado 2019 como o 8º maior produtor de automóveis do mundo, o Brasil ficou apenas com a 26ª colocação entre os exportadores, atrás de países com menor capacidade produtiva, como Polônia e África do Sul.
*Estagiária sob supervisão de Odail Figueiredo