O Banco Central do Brasil (BCB) voltará a elevar a taxa básica de juros na quarta-feira (5/5) em 0,75 ponto percentual, para 3,5%, e reafirmará sua "firmeza" contra a inflação, em alta apesar da desaceleração econômica causada pela pandemia, estimam analistas.
O BCB elevou a taxa Selic pela primeira vez em seis anos em março, de seu mínimo histórico de 2% para 2,75%; e indicou que em maio faria um ajuste semelhante "a menos que haja uma mudança significativa nas projeções de inflação e no balanço de riscos".
Muitos analistas esperavam um aumento de até um ponto percentual, mas essa possibilidade foi praticamente descartada após a aprovação do orçamento de 2021, sem descontrole de gastos, e uma recuperação do real frente ao dólar.
A inflação acumulada em doze meses, no entanto, seguiu piorando e em março atingiu 6,10%, superando o limite tolerado de 5,25% da meta oficial de 2021 (cujo centro é 3,75%).
A projeção de inflação para este ano, assim, passou de 4,81% um mês atrás para 5,04%, de acordo com a pesquisa Focus de expectativas de mercado realizada pelo BCB.
Embora essa projeção suponha uma desaceleração da inflação no segundo semestre, "dado o contexto de curto prazo, o BC talvez opte por uma sinalização mais firme", diz Jason Vieira, da consultoria Infinity Assets.
"Um sinal muito 'dove' (branco) poderia perder esse benefício" da estabilidade do câmbio", adverte, em alusão a uma postura mais favorável a taxas mais baixas e menos preocupação com a inflação.
"A impressão ainda é que, a despeito das altas expectativas de inflação, estas estão dentro da meta ou muito próxima a ela", afirma Mauro Rochlin, professor de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV).
Porém, o BCB terá de apontar "a necessidade de seguir aumentando" a taxa, pois em abril a inflação acumulada "vai chegar perto de 7%", acrescenta.
"Normalização parcial"
A expectativa do mercado é que a Selic atinja 5,50% no fim do ano e 6,25% em 2022, coroando o que o BCB chamou de "processo de normalização parcial do estímulo monetário".
Mas o BCB deve evitar que o aumento dos juros afete a reativação da maior economia da América Latina, que em 2020 encolheu 4,1%.
A projeção é de que o PIB cresça este ano em 3,14%, número revisado várias vezes para baixo devido à intensificação da pandemia do coronavírus, que já deixou quase 410 mil mortos no Brasil.
Mesmo assim, a vacinação, ainda que lenta, deve permitir sair da crise que, em um ano, aumentou o número de desempregados em 2 milhões, chegando a um recorde de 14,4 milhões.
O BCB precisará encontrar "um equilíbrio tênue" para incentivar a reativação sem perder as rédeas dos preços, afirma Vieira.
Por outro lado, os analistas veem com certa preocupação a possibilidade de um descontrole das despesas antes das eleições de outubro de 2022, nas quais o presidente Jair Bolsonaro tentará um segundo mandato.
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