Com a credibilidade em baixa e a permanência no cargo questionada, o ministro da Economia, Paulo Guedes, está entregando cabeças de subordinados para agradar ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e aos parlamentares do Centrão, de olho nas eleições de 2022. Ontem, confirmou a saída do secretário especial da Fazenda, Waldery Rodrigues, e do secretário de Orçamento, Georges Soares, que se desgastaram nas negociações com o Congresso sobre a peça orçamentária de 2021.
De acordo com Guedes, Waldery continuará na equipe, como assessor especial. O secretário do Tesouro Nacional, Bruno Funchal, será o novo secretário da Fazenda e passará o comando do Tesouro para Jeferson Bittencourt, assessor especial do ministro. Com isso, apenas dois integrantes do primeiro escalão do “superministério” de Guedes, criado pela fusão de cinco pastas, permanecem desde o início do governo: o secretário especial de Produtividade, Emprego e Competitividade, Carlos da Costa, e o secretário-executivo, Marcelo Guaranys.
O secretário de Orçamento Federal, George Soares, também deixará o cargo. O ministro confirmou que o substituto será o analista de planejamento e orçamento Ariosto Antunes Culau, que já fez parte da secretaria-executiva da pasta.
Guedes, no entanto, evitou falar em uma debandada da equipe e garantiu que o time do Ministério da Economia “está unido”. “Não é uma demissão. É um remanejamento da equipe justamente para facilitar as negociações com o Congresso”, disse ele a jornalistas, ontem à noite, na portaria do ministério, escoltado por Waldery e Funchal. Segundo o ministro, a mudança dos técnicos, que são servidores concursados, vinha sendo negociada há meses, porque o “desgaste é muito grande” e a pressão sobre a equipe econômica “é quase desumana”.
Segundo fontes próximas ao ministro, nas negociações sobre o Orçamento de 2021, os técnicos tentaram garantir o cumprimento das regras fiscais, mas ficaram fragilizados quando Bolsonaro acabou cedendo às pressões do Centrão e decidiu preservar a maior parte dos R$ 49 bilhões de emendas aprovadas pelo Congresso, aceitando cortar verbas para o custeio da máquina pública.
Mais baixas
As baixas da equipe econômica, no entanto, vão além. Pelo menos mais três integrantes do time de Paulo Guedes estão de saída: a assessora especial da reforma tributária, Vanessa Canado; a secretária Especial da Secretaria do Programa de Parcerias de Investimentos (PPI) da Economia, Martha Seillier; e a secretária especial adjunta do PPI, Yana Dumaresq Sobral Alves.
Vanessa Canado deixará o governo no momento em que o presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL), promete retomar a tramitação da reforma tributária. Ela será substituída pelo professor de direito tributário Isaias Coelho, que é coordenador do Núcleo de Estudos Fiscais da Fundação Getúlio Vargas (FGV).
Já Martha Seillier foi convidada para assumir um posto no Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). “Essas são as primeiras mudanças em relação à Secretaria de Fazenda. Vamos fazer outras adaptações. Tem gente nossa que está sendo convidada para trabalhar lá fora ou já entregou o trabalho”, admitiu Guedes.
Questionada sobre o assunto, Martha Seillier negou a saída “no momento”. Porém destacou que trabalha com um time de excelência que, por isso, “recebe convites e oportunidades”. “No momento, eu sigo na equipe, não acredito que estejamos passando por um movimento de debandada. Eventualmente, podemos mudar de posição, mas sempre com os mesmos objetivos”, disse.
A possibilidade de que Martha Seiller vá para o BID reacendeu as especulações sobre a volta do PPI para o Palácio do Planalto, pois a secretaria era subordinada à Casa Civil. Também há pressão do Senado para que o Ministério da Economia seja desmembrado por meio da recriação de pastas, como Planejamento e Trabalho. A ideia seria dar um espaço para o Senado no governo, já que, até agora, Bolsonaro só deu cargos do primeiro escalão para aliados da Câmara dos Deputados. Isso, porém, tem incomodado Paulo Guedes, que não gosta da ideia de ver o “superministério” encolher, nem da possibilidade de entregar o Planejamento ao ministro do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho, a quem já chamou de “fura-teto, desleal e despreparado”, mas é um dos nomes cotados para essa pasta, se ela voltar. (Colaborou Ingrid Soares)