Se a realidade está difícil, mude de realidade. Assim, pode-se resumir o aumento do interesse por games durante a pandemia. É cada vez maior o número de pessoas que, entre o home office e a precaução para ficar em casa, se aventuram no mundo virtual do entretenimento. Um dos expoentes mundiais no mercado de tecnologia, o nicho de games cresceu vertiginosamente, com uma explosão de novos consumidores. Segundo pesquisa realizada em 2020 pelo Brasil Games Show (BGS), em parceria com o Instituto Datafolha, quatro em cada 10 brasileiros tendem a jogar jogos eletrônicos.
“A pandemia provocou um efeito natural, as pessoas buscaram uma opção de entretenimento dentro das próprias casas. Uma das grandes vantagens dos jogos é que ele dá a chance de vivenciar de uma maneira virtual aquilo que você não está podendo viver no mundo real”, explica o CEO da Brasil Game Show, Marcelo Tavares.
Durante a pandemia, os jogos se tornaram um refúgio para enfrentar o isolamento social e uma possibilidade de renda. Carlos Eduardo Figueredo, 21 anos, de Palmas, transformou a paixão pelos games em entretenimento para outras pessoas e uma forma de ganhar dinheiro extra. Ele faz transmissão ao vivo de seus jogos pela internet (streaming) para seu público. “Eu assistia a lives de vários jogadores e me divertia muito, durante a pandemia. Vi aquilo como uma oportunidade de também começar a entreter outras pessoas e ganhar dinheiro com uma atividade de que gosto muito”, conta. “Eu mesmo fui influenciado por alguns dos meus streamers favoritos, como Rebeca, Sabrinoca e Nicky Mitrava. Passei, então, a jogar vários jogos novos e diferentes. Primeiro, as pessoas assistem. Se gostam, começam a jogar.”
Logo, as transmissões ao vivo de jogos tornaram-se a fase seguinte para aqueles que passam o tempo jogando em casa. “Com a pandemia, as pessoas que já tinham o costume de jogar estão com mais tempo livre e jogando mais. E, com certeza, há mais pessoas assistindo a jogos ao vivo e a vídeos de jogadores no YouTube”, explica Pablo Sebástian de Paula Rodrigues, 24 anos, gamer em São Paulo.
Mulheres nos games
Segundo a pesquisa do BGS, os homens ainda são a maioria no universo dos games. Representam cerca de 53% do total de jogadores, enquanto as mulheres somam 47%. Apesar de ainda estar em menor número, o público feminino é uma parcela cada vez mais importante em um mercado estereotipado apenas para homens.
Segundo a Sakura Esports, organização que traz visibilidade e fomenta a união entre mulheres gamers, o público feminino sempre esteve presente nos jogos, porém não era reconhecido. Para evitar constrangimentos, as jogadoras usavam nomes de usuário neutro e eram consideradas jogadores masculinos.
“Penso que o que mais mudou foi a exposição. Aos poucos, mulheres têm se sentido mais confortáveis em se comunicar e interagir com outros players. E esses ambientes mais abertos, de maior representatividade, são mais favoráveis à adesão feminina. A independência econômica é um outro fator relevante”, explica Ariadne Aquino, social media da organização.
A estudante de audiovisual Beatriz Barreto, 20, joga desde 2016 como diversão e conta que já passou por situações constrangedoras com alguns jogadores. “A maioria dos homens acha que você não é capaz de jogar. A pior situação foi quando eu estava jogando e elogiei a skin (visual) do jogo. Depois que eu perdi, os jogadores ficaram falando que mulher só sabe jogar pela skin e não tem habilidade nenhuma”, relata.
As gamers também afirmam que as personagens femininas de alguns jogos são hipersexualizadas e não têm uma jogabilidade tão boa quanto os personagens masculinos. “A indústria dos jogos tem que começar a pensar em como agradar ao público feminino, em criar jogos com uma jogabilidade interessante que se sustente apenas com a história que vende e não com bonecas de peitos inflados soltando ‘poderzinho’ rosa”, explica a gamer tocantinense Ana Clara França, 22.
*Estagiários sob a supervisão de Carlos Alexandre de Souza