Economia fraca, dólar em alta, inflação disparada, embates entre parlamentares sobre o orçamento de 2021, Comissão Parlamentar de Inquérito para apurar falhas no combate a Covid. São muitos os fatores que afetam a economia brasileira. Nesse cenário conturbado, investir se torna uma decisão de risco. O dilema se aplica tanto para quem aplica as economias no mercado de ações, quanto para empresas que precisam redirecionar recursos para manter a produção.
Especialistas ouvidos pelo Correio relatam os pontos mais importantes a serem observados no momento de investir. A maioria recomenda cautela em meio à instabilidade, sugere um colchão financeiro para enfrentar oscilações do mercado e aconselha uma atenção especial a questões políticas nacionais, como a situação fiscal do governo e a discussão do Orçamento da União.
Felipe Queiroz, economista e pesquisador da Unicamp, ressalta a cautela do setor produtivo em ampliar os investimentos. “As empresas têm evitado, frente a esse cenário de incertezas, aplicar seus recursos, investir na produção, investir em mão de obra, ampliar o parque produtivo etc.", conta. E ele explica por quê: "Por vários motivos isso está acontecendo. A pandemia é um evento incerto e não se sabe quando vai acabar. Outro lado é a instabilidade política. Temos um presidente que age contra a ciência, contra a produção, contra os interesses nacionais, tudo isso afugenta os investidores”, enumera.
A cautela dos empresários também é evidente no mercado financeiro. Segundo os especialistas, a falta de um programa econômico efetivo para atrair o capital estrangeiro é um fator de risco relevante. “O mercado está mais seletivo, pois não tem tanta movimentação quanto antes. Várias empresas não estão conseguindo seu valor de ação, ou seja, não estão conseguindo negociar o preço que consideram justo pelas ações. Para a empresa, não é interessante entrar no mercado nesse período”, explicou, Riezo Almeida, coordenador de graduação em economia, gestão pública e financeira no Instituto de Ensino Superior de Brasília (Iesb).
Colchão financeiro
No mercado financeiro, a precaução é grande entre pequenos investidores. Fernando Campos, 25 anos, é empresário em Brasília e atua na bolsa de valores. Ele vê um aumento crescente de investidores no mercado financeiro, mas admite uma queda de investimentos, em razão da crise crise política e econômica instalada no país. "Desde o início da pandemia, houve muitas oscilações em ganhos e perdas em geral na bolsa brasileira. A B3 (Bolsa do Brasil) caiu mais do que subiu, em uma proporção de 60% para 40%. Além disso, a insegurança de muitos investidores é a pandemia. Com a chegada da covid-19, a economia foi completamente afetada, o desemprego aumentou e a inflação também”, observa o empresário.
Fábio Bentes, economista na Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), considera a volatilidade uma característica intrínseca do mercado financeiro no Brasil.“O Ibovespa é um indicador muito sensível. Sempre que há alguma notícia de impacto e certo desempenho das empresas, a bolsa é o primeiro indicador que vai reagir. Ainda mais nesse momento onde tudo está incerto”, explica o economista.
Bentes tem uma visão cautelosa em relação ao futuro. “Por conta da pandemia, o endividamento do país anda muito alto, não é de se esperar boas notícias para o futuro do mercado. A variação dos últimos três meses da bolsa de valores é semelhante àquilo que se tinha em meados de fevereiro, há três meses atrás. Houve uma forte oscilação e, quando a gente olha para condições da economia atual, a gente não espera um desempenho animador”, cita.
Carlos Oliveira, consultor de investimentos, ressalta o impacto dos acontecimentos políticos no mercado de ações. Ele cita como exemplo o impasse na definição do Orçamento 2021, que se estendeu por semanas. “Nesse sentido, a Bolsa de Valores, um termômetro da expectativa de resultados do mercado financeiro, aguarda a normalização de questões políticas [como o Orçamento] que afetam o país, para, assim, dar mais confiança aos investidores", explica.
Em um cenário marcado pela instabilidade, uma das saídas é manter uma reserva financeira para suportar as intempéries. "Eu sempre toco nessa tecla, porque ela é importante e salvou muita gente nessa pandemia. Para as pessoas que não têm uma reserva de emergência, é fundamental criar um escudo contra possíveis problemas que possam surgir. Àqueles que já têm essa reserva, indico previsão a longo prazo, para aproveitar essas oportunidades que o mercado está dando", observa o educador financeiro Ruda Lins.
* Estagiários sob a supervisão de Carlos Alexandre de Souza