O presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, defendeu nesta quinta-feira (15/4) a participação das fintechs no mercado de crédito brasileiro. Ele disse que as empresas de tecnologia podem elevar a competição do mercado, além de estimular a concessão de créditos inclusivos como o microcrédito e o cooperativismo.
"Fintechs na parte de crédito é um elemento importante para gerar competição, entendendo obviamente que o balanço do banco sempre é uma vantagem, porque você pode alavancar, mas que existem modelos segmentados de crédito que deveriam ser estimulados", afirmou Roberto Campos Neto, ao participar de um evento da ABFintechs.
Segundo o chefe da autoridade monetária, faz sentido pensar em fintechs de crédito focadas não só na área de tecnologia, mas também em créditos que geram inclusão, como o cooperativismo e o microcrédito. Apesar de ainda não ver um movimento muito grande nesse sentido no Brasil, ele também acredita que existem grandes chances de crescimento das fintechs voltadas ao agronegócio, as chamadas agrotechs.
Campos Neto disse, ainda, que esse movimento já está em curso. Ele explicou que a carteira de crédito das fintechs ainda é pequena, mas vem registrando um "crescimento é expressivo" no Brasil, e contou que o BC também vem recebendo cada vez mais pedidos de autorização dessas empresas. "O número de pedidos aumentou muito, às vezes, temos até dificuldades de aprovar com a mesma agilidade, mas temos feito um esforço muito grande para aprovar todas as ideias e fintechs e continuar gerando um movimento de inovação na parte de pagamentos", declarou.
Ele ressaltou, por sua vez, que o mercado de crédito vem apresentando bons números no país. Segundo o BC, o saldo de crédito do país cresceu 16,1% em fevereiro deste ano, mesmo depois da alta de 15% registrada no ano passado, em meio aos programas emergenciais de crédito. "E grande parte dos produtos está perto das taxas mais baixas", afirmou.
Recuperação tecnológica
Para o presidente do Banco Central, a tecnologia é um elemento primordial no processo de recuperação da pandemia de covid-19, que deve ser fomentado pela autoridade monetária. "Existe uma demanda da sociedade para que a recuperação da pandemia, globalmente falando, seja baseada em um movimento inclusivo e sustentável. A inclusão vai ser muito empurrada pelo crescimento da tecnologia. A gente vê a tecnologia como um grande instrumento de democratização, de atingir as massas e trazer os preços dos serviços financeiros para baixo", explicou.
Nesse sentido, Campos Neto lembrou que o BC também tem a própria agenda de inovação. No ano passado, a autoridade monetária lançou o Pix, o sistema de pagamentos instantâneos do Brasil, que teve uma adesão superior ao esperado, inclusive por parte de fintechs. Dados apresentados nesta quarta-feira pelo presidente do BC mostram que 1/3 das transações do Pix já são intermediadas pelas grandes fintechs do país.
Neste ano, o BC trabalha na implementação do Open Banking, que também deve impulsionar a participação de fintechs no sistema financeiro, pois vai permitir que os consumidores usem seus dados bancários para buscar produtos melhores, mais baratos e mais personalizados. Além disso, a autoridade monetária estuda a emissão de uma moeda digital. "Uma moeda digital encaixa no mundo em que há mais negociações digitais", explicou Campos Neto, que prometeu "começar a soltar aos poucos o que entendemos que são os pilares desse projeto".