O presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, reforçou nesta quinta-feira (15/4) que o Brasil precisa "mostrar uma dinâmica fiscal melhor". Ele explicou que as incertezas fiscais reduzem a confiança do mercado e têm pressionado a taxa de câmbio, contribuindo, assim, com o processo de alta de inflação e dos juros.
"O Brasil é um dos países mais endividados do mundo. Já vinha em uma trajetória de dívida ruim, mas acelerou muito durante a pandemia. Os gastos foram necessários. Sempre defendemos que os gastos com saúde, para salvar vidas, são gastos que o país tem que fazer. Mas, no fim desse processo, encontra uma uma posição mais frágil e, por isso, precisa mostrar uma dinâmica fiscal melhor", afirmou Roberto Campos Neto, durante evento da ABFIntechs.
Defensor do ajuste fiscal, o presidente do Banco Central tem evitado falar sobre os impasses do Orçamento. Porém, fez questão de deixar claros os efeitos de uma deterioração fiscal nesta quinta-feira. "O apetite ao risco volta mais rapidamente no grupo de países que têm uma dívida bruta menor. No grupo que têm uma dívida maior, tem um retorno ainda muito parcial ao que existia antes", afirmou.
Campos Neto disse também que "existe uma relação grande entre a fragilidade fiscal e a desvalorização da moeda" e lembrou que a alta do dólar "exacerbou" o processo inflacionário no país. "Grande parte do delta da inflação tem sido um fenômeno de commodities e desvalorização, tanto commodities de alimentos quanto na parte de metais e energia. Não é só um fenômeno brasileiro, é mundial. Mas, no Brasil, foi exacerbado pela desvalorização", afirmou.
O chefe da autoridade monetária lembrou que a inflação ainda "vai atingir níveis altos no meio do ano" no Brasil e frisou que esse movimento já tem contaminado as expectativas de inflação deste ano, mas também de 2022, 2023 e 2024. Foi por isso que o Comitê de Política Monetária (Copom) deu início a um processo de elevação dos juros no mês passado.
Na última reunião, o Copom elevou a taxa básica de juros (Selic) de 2% para 2,75% ao ano e indicou que a Selic deve sofrer outro ajuste de 0,75 ponto percentual na próxima reunião, em maio. Alguns agentes de mercado já avaliam que, devido à pressão inflacionária, esse ajuste pode ser ainda maior, chegando a 1 ponto percentual. Campos Neto, por sua vez, vem dizendo que o cenário ainda sugere uma alta de 0,75. Ele argumentou que a alta inicial da Selic já foi mais forte do que o esperado e, por isso, pode reduzir o efeito total do aumento de juros.
"Foi uma das motivações para o aumento de juros, para ter aumentado mais do que estava sendo esperado pelo mercado. Entendendo que, se a gente fizer mais, a gente evita de forma mais eficiente a contaminação da inflação, que é temporária, aos demais elementos e aumenta a eficiência do ajuste, o que requer um ajuste menor ao fim", disse o presidente do BC. Ele admitiu, no entanto, que a curva futura de juros continua inclinada.
Vacinação
Roberto Campos Neto ainda voltou a defender o avanço da vacinação contra a covid-19 no Brasil. "Esta é a variável mais importante no curto prazo para determinar a reabertura da economia", explicou, lembrando que "a pandemia tem movido a economia do Brasil e de vários países do mundo".
Segundo o chefe da autoridade monetária, a economia brasileira mostrou "resiliência" no início desde ano, mas já dá sinais de queda devido ao avanço da segunda onda da pandemia de covid-19. Ele disse, ainda, que a queda da segunda onda será "bem menor" que a observada no ano passado, destacando que o ritmo da vacinação contra a covid-19 sugere que será possível reabrir a economia no segundo semestre deste ano, o que terá efeitos positivos, sobretudo, para o setor de serviços e para o setor informal do mercado de trabalho brasileiro.