O Banco Central tentou, mas as instabilidades políticas impediram que as ações de rolagem de contratos de swap cambial contivessem a desvalorização do real. Após ultrapassar os R$ 5,741, ontem, no final do pregão, em uma pequena acomodação, o dólar comercial encerrou o dia cotado a R$ 5,729 para compra e R$ 5,722 para venda, com alta de 0,93%. “O nervo exposto do mercado é o dólar. Os analistas estão farejando uma deterioração fiscal, diante da possível burla do teto dos gastos, com as notícias de que possíveis ações contra a covid ficarão fora do teto e também das articulações entre Executivo e Legislativo para aprovação de um orçamento irreal”, comenta Newton Rosa, economista-chefe da SulAmérica Investimentos.
Mario Battistel, gerente de câmbio da Fair Corretora, explica que a segunda-feira foi marcada pelo aumento da percepção de risco, com a ameaça de instalação da CPI da Covid no Senado. “O BC fez um leilão de swap de US$ 750 milhões, mais uma rolagem de US$ 4 bilhões. Não deveria. Até porque ainda não é possível avaliar se o presidente da República sairá vitorioso na inclusão de prefeitos e governadores na CPI, ou, se isso não acontecer, se ele vai, caso a proposta vá para a Câmara, conseguir derrubar todo esse processo, incluindo um eventual impeachment”, reforça Battistel.
Para o economista Cesar Bergo, sócio-consultor da Corretora OpenInvest, o comportamento do dólar é o parâmetro mais fiel do momento econômico. “Esse continua sendo o principal fator de pressão na inflação. Quando o mercado não acredita na expectativa do BC de queda futura do câmbio, há um risco grande de a autoridade monetária perder dinheiro. O prejuízo para o país será grande por dois lados: queda nas reservas e a possibilidade de, em troca de apoio do Centrão, o presidente não vetar no Orçamento gastos que possam afetar a economia. É uma situação complicada”, enfatiza Bergo.
No mercado acionário, o dia também foi de cautela. O Ibovespa, índice que mede o desempenho das principais ações da bolsa de valores brasileira (B3), encerrou o pregão em alta de 0,97%, aos 118.811 pontos. A B3 se descolou da sessão moderadamente negativa em Nova York e permaneceu neutra a mais um dia de pressão no câmbio. O motivo para o Ibovespa iniciar bem a semana é a aproximação da disputa entre comprados e vendidos no vencimento do índice futuro, na quarta-feira. Assim, as ações de Petrobras e bancos, ainda bem descontadas no ano, estiveram entre as vencedoras em sessão com relativamente poucos catalisadores, aqui e no exterior. Com o resultado de ontem, o Ibovespa elevou os ganhos do mês a 1,87% e limitou as perdas do ano a apenas 0,17% — apesar das incertezas provocadas pela indefinição no Orçamento 2021 e na instalação de uma CPI da Covid.
No mercado externo, o dia foi de leve desvalorização. O índice Dow Jones, da bolsa de valores americana, caiu 0,16%, e a bolsa tecnológica Nasdaq baixou 0,36%. Foi um movimento bem direcionado dos investidores, que resolveram embolsar os lucros, após vários recordes de ganhos das bolsas. Agora, de acordo com especialistas, eles estão à espera dos dados da inflação americana, que saem hoje, e de olho na temporada de balanços corporativos do primeiro trimestre de 2021. (Com Agência Estado).