O governo arrecadou R$ 3,3 bilhões no primeiro dia da semana de concessões de infraestrutura do governo federal, a InfraWeek. Foram leiloados 22 aeroportos, ontem, na Bolsa de Valores de São Paulo (B3). O ágio médio foi de 3.822%, com um dos lances superando 9.000%. O ministro da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas, avaliou o resultado como “extremamente positivo”.
O ministro disse que o governo “teve ousadia” porque chegou a ser chamado de louco por licitar aeroportos “no meio da maior crise da história do setor aéreo”. Mas, destacou que, enquanto muitos deram um passo para trás, o Brasil ficou “quase exclusivo” para aproveitar “o excesso de liquidez que tem lá fora”. “Nós temos que aproveitar as oportunidades”, afirmou Freitas.
A Companhia de Participação de Concessões, do Grupo CCR, que tem forte atuação em rodovias, levou dois dos três blocos que foram ofertados no leilão da B3. Juntos, eles reúnem 15 aeroportos que movimentaram 19,7 milhões de passageiros em 2019, incluindo os terminais aéreos de Curitiba e o de Goiânia.
De acordo com dados da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), os novos concessionários dos aeroportos leiloados deverão investir cerca de R$ 6 bilhões durante os 30 anos da concessão. Os investimentos estimados nos estudos de viabilidade técnica serão de R$ 2,8 bilhões, para o Bloco Sul; de R$ 1,8 bilhão, para o Bloco Central; e de R$ 1,5 bilhão, para o Bloco Norte.
Após o leilão, Mauro Cauduro, CEO do Grupo CCR, garantiu melhorias na infraestrutura dos aeroportos arrematados. “Vamos realizar os investimentos e promover serviços de excelência nos diversos modais aeroportuários em que iremos atuar”, disse. Ele informou que o grupo estudou muito os projetos nos últimos anos e “as propostas foram alinhadas com a nossa estratégia de crescimento qualificado e disciplina de capital”.
Apesar do ágio elevado mostrando que, talvez, o preço de outorga fixado era muito baixo, o economista e especialista em infraestrutura Claudio Frischtak, sócio da Inter.B Consultoria Internacional de Negócios, considerou a estratégia do governo boa. “O governo poderia ter afastado investidores e não haveria disputa”, afirmou. Ele lembrou que houve três consórcios disputando os Blocos Sul e Centro Oeste e dois, no Bloco Norte. Para ele, o leilão de aeroportos foi bem sucedido, porque a modelagem foi boa e atraiu investidores. “O governo tentou reduzir as barreiras de entrada e fez o correto”, avaliou.
Ricardo Jacomassi, economista-chefe e sócio da TCP Partners, também elogiou o resultado do leilão e contou que a maior surpresa para ele foi a competição entre os participantes. “Não estávamos prevendo que haveria um número relevante de empresas participando do certame. Portanto, foi positivo, isso mostra que os ativos leiloados são atrativos em termos de retorno para o investidor”, disse.
Rafael Moreira Mota, advogado especialista em infraestrutura e sócio do Mota Kalume Advogados, demonstrou preocupação com a grande diferença entre os lances dos consórcios. “Valores são muito discrepantes e precisam ser analisados com cautela pelo histórico de pedidos de reequilíbrios econômico-financeiros, abandonos de concessões e demais problemas judiciais que, infelizmente, assolaram o Brasil nos últimos anos”, disse. Segundo ele, se não houver o retorno para o concessionário vencedor, o negócio pode não ir para frente e a concessão poderá ser abandonada.
Novos leilões
Hoje está previsto o leilão do trecho da Ferrovia de Integração Oeste-Leste (Fiol), que liga Ilhéus a Caetité, ambos na Bahia, mas o projeto prevê ligação até Figueirópolis, no Tocantins. E, na sexta-feira (9), ocorrerá a concessão de cinco terminais portuários — quatro no Maranhão e um no Rio Grande do Sul. O governo prevê arrecadar R$ 10 bilhões com a Infra Week. Pelas projeções de Freitas, o plano de concessões desta semana “deve gerar mais de 200 mil empregos diretos e indiretos”.
Apesar do resultado bem sucedido com os aeroportos, os dois próximos leilões não devem ser tão animadores, de acordo com Claudio Frischtak, da Inter.B. Ele recomenda mais cautela, porque a Fiol deve ter apenas um consórcio na disputa a outorga deverá ser mínima. Além disso, dois dos cinco terminais portuários que serão leiloados são “greenfield”, ou seja, será preciso construir do zero, o que, na atual conjuntura, pode não ter tantos interessados diante de tanta incerteza na política e na economia.
*Estagiário sob a supervisão de Carlos Alexandre de Souza