Ainda sem uma definição sobre qual será a atitude do presidente Jair Bolsonaro sobre o Orçamento para 2021, o ministro da Economia, Paulo Guedes, reclamou que o ajuste feito por deputados e senadores na peça orçamentária, que cortou R$ 26,5 bilhões em despesas obrigatórias para turbinar emendas parlamentares, tenha tido a participação de “ministros fura-teto”, e que a equipe econômica foi surpreendida com a redação final da matéria.
Em live nesta sexta-feira (9/4) promovida pelo Bradesco BBI, Guedes afirmou que a sua equipe e ele concordaram com os congressistas em uma manobra que destinasse mais R$ 16 bilhões às emendas que são indicadas por deputados e senadores, mas que depois disso houve um novo acordo sem a participação da Economia. De acordo com Guedes, “alguém foi em nome do presidente da República e pediu um dinheiro que não estava combinado, e deu quase o dobro do que estava combinado para caber dentro do Orçamento”.
“O primeiro acordo era em torno de R$ 8 (bilhões), ela (a equipe econômica) acompanhou. O segundo acordo era R$ 16 (bilhões), ela acompanhou. De repente fizeram um acordo que extrapolou e não cabia e não era parte do acordo das principais chaves, a presidência da Câmara, do Senado, a Secretaria de Governo. Houve equívocos de um lado ou de outro. Todo mundo está junto no erro”, ponderou o ministro.
Guedes reclamou que o Executivo sempre tem um “ministro mais ousado”. Apesar de ele não ter citado nomes, é consenso dentro do governo de que ele se referia ao ministro do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho, que em outras oportunidades já foi taxado pelo colega da Economia de “fura-teto”.
"Conta não fecha"
Na avaliação do ministro da Economia, o novo acordo à peça orçamentária feito sem o conhecimento da equipe econômica teria acontecido para possibilitar a realização de mais obras de infraestrutura pelo governo federal com o dinheiro indicado por deputados e senadores. A medida seria politicamente benéfica tanto para Bolsonaro quanto para parlamentares, visto a proximidade das eleições de 2022.
Contudo, Guedes alertou que “não adianta querer levantar o governo agora, através de obras”. “Tem ministro fura-teto, tem de tudo aqui. Tem ministro que não desiste, volta toda hora e bate no mesmo lugar. Isso acontece volta e meia. Ele (ministro) bota mais um pouquinho de dinheiro ali, mas esquece de combinar com os outros. Quando vai combinar, a conta não fecha. Isso bota em risco o grupo inteiro”, frisou.
Durante a live, Guedes também comentou que o relator do Orçamento, senador Márcio Bittar (MDB-AC), foi sondado por um ministro do governo para que o teto de gastos, emenda constitucional que limita o aumento de despesas pela inflação do ano anterior, fosse desrespeitado para possibilitar mais despesas à área de infraestrutura. Novamente, Guedes não falou o nome de qual ministro teria proposto isso.
“O relator estava recebendo conversa de ministro, tinha ministro pedindo dinheiro para ele e prometendo mandar dinheiro para o estado dele. Ao mesmo tempo, tinha gente falando em nome do presidente que queria um pouco mais de dinheiro. Inclusive, disse o relator que houve proposta de furar o teto.”
Guedes ainda disse que o governo federal não pode “ceder a oportunismos, a aproveitador que queira aproveitar a crise, seja fora ou dentro do governo”. “Tem oportunista em todo lugar. Temos que resistir a isso fazendo o certo.”
Solução
Além das críticas de eventuais atitudes equivocadas de ministros do governo, Guedes comentou sobre como Executivo e Congresso devem trabalhar para solucionar o impasse. O chefe da Economia segue com o entendimento de que o Orçamento tal como está é inexequível e salientou que “acordos políticos têm que caber nos orçamentos públicos”.
O ministro voltou a falar que o impasse é “natural em um time que nunca tinha jogado junto antes” e reconheceu que “todo mundo tem um pouco de razão e de erro”. De toda forma, ele acredita que o fato de Bolsonaro ter uma boa base de sustentação no Congresso atualmente pode facilitar a resolução desse assunto.
“Vamos acabar chegando em um acordo. A questão é de como faz, e não do que deve ser feito. Quero crer que vai prevalecer o sinal de aliança política e não o barulho. O presidente da Câmara (Arthur Lira) está dizendo que o combinado tem que ser cumprido, o presidente Bolsonaro diz a mesma coisa e eu digo a mesma coisa. Não há dúvidas quanto ao que tem que ser feito. Está todo mundo de acordo.”
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