Com a saída de Ernesto Araújo do Ministério das Relações Exteriores, abre-se uma possibilidade para o Brasil recuperar o terreno perdido na diplomacia. Especialistas ouvidos pelo Correio relatam, por exemplo, a importância de reforçar os laços econômicos com a China, parceiro comercial com o qual o ex-chanceler acumulou desgastes.
Arthur Barrionuevo, especialista em economia industrial e políticas de competição da Fundação Getulio Vargas (FGV), explica que a postura de Ernesto Araújo atrapalhou negociações agropecuárias com a potência econômica asiática. “A China, como grande importadora das commodities que o Brasil exporta, e parceira importante para importação de produtos industriais, entre outras coisas mais, é um dos principais aliados do país, juntamente com os Estados Unidos. Com a declaração que o ex-ministro fazia, ele provocava um mal estar nessa relação Brasil-China” , comentou.
Em abril de 2020, o chanceler declarou que o país asiático se beneficiaria com a crise causada pelo coronavírus, por meio da tentativa de “instaurar o comunismo”. A mensagem foi publicada no blog pessoal de Araújo e reproduzida em uma publicação no Twitter. Em resposta à fala, o presidente da Frente Parlamentar Brasil-China, deputado Fausto Pinato (PP-SP), ameaçou pedir a destituição de Ernesto Araújo do cargo de ministro.
Relação com o Congresso
Para Barrionuevo, um nome mais habilitado à frente do Ministério das Relações Exteriores pode colaborar para acordos mais amigáveis: “Para agronegócio brasileiro, ter uma pessoa mais ponderada no ministério certamente vai ajudar. Um ministro mais hábil, mais experiente”, avaliou.
O embaixador Carlos Alberto Franco França foi anunciado para substituir Ernesto Araújo no Itamaraty. França iniciou a carreira diplomática em 1991 e aproximou-se de Bolsonaro quando chefiou o cerimonial do Palácio do Planalto. Posteriormente, comandou a assessoria especial da Presidência.
Heloïse Sanchez, da Equipe de Análise da Terra Investimentos, também espera uma melhora nas relações diplomáticas do Brasil com a saída de Ernesto Araújo. Ela acredita, ainda, em um distensionamento com o Congresso Nacional. “Carlos França é um diplomata com mais de 30 anos de experiência, trabalhando anteriormente na Bolívia, Paraguai e Estados Unidos, com isso a comunicação tanto com esses países, como com o Congresso Nacional, acaba ficando em um cenário mais favorável e pacífico com essa mudança”, avaliou.
*Estagiárias sob a supervisão de Carlos Alexandre de Souza