No início deste ano, a diferença dos efeitos da pandemia em países emergentes e desenvolvidos se intensificou. E o Brasil, por conta da situação fiscal, teve o pior cenário de descompasso da alta no preço das commodities, inflação interna e desvalorização da moeda ante o dólar, mais acentuado do que seus pares. A afirmação foi feita, nesta terça-feira (30/3), pelo presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, em live promovida pelo Banco Daycoval.
“Em setembro do ano passado, levantei um ponto que me preocupava: a volta do processo inflacionário global. Naquele momento, setembro e outubro e novembro, existiam vários programas de estímulo a serem implementados, grandes pacotes, como o dos Estados Unidos, de US$ 1,86 trilhão. Além disso, havia uma luz no fim do túnel, com a possibilidade da vacinação e da reabertura das economias”, explicou. Isso tudo, segundo ele, começou a tomar forma em dezembro de 2020.
Em janeiro e fevereiro, começa a diferenciação entre emergentes e desenvolvidos. “De forma mais incipiente, isso já vinha ocorrendo. Mas, no momento em que os agentes econômicos, que estavam dormentes, despertaram, eles começam a reprecificar os ativos”, pontuou. Isso gera inflação, mas, como o crescimento é maior do que os juros, é possível subir as taxas sem prejudicar o fiscal nos países desenvolvidos. “No caso dos emergentes, isso não ocorre. Quem tem o pior fiscal, como o Brasil, sofre maior desvalorização da sua moeda”, explicou.
Como houve alta no preço das commodities, segundo Roberto Campos Neto, o peso fiscal não permite a apreciação da moeda, mesmo o Brasil sendo produtor de commodity. “A diferenciação é uma realimentação. A commodity subindo e a moeda não apreciando, há mais inflação em moeda local. Como está muito ligada aos alimentos e o peso da alimentação é maior no emergente do que no país desenvolvido, a inflação sobe mais”, esclareceu.
O presidente do Banco Central explica que essa conjuntura vem se exacerbando nos últimos meses, tanto que outros emergentes começaram a subir juros, como a Rússia e a Turquia. O Brasil também decidiu subir a Selic. “O país teve um crescimento maior no quarto trimestre, mas o IBC-Br recuperou todo o movimento. Esperávamos uma retração mais forte em janeiro e fevereiro, por conta do fim do auxílio emergencial, mas os números foram bons. A economia se mostrou resiliente”, afirmou.
Expectativa
Porém, a expectativa do BC é de um primeiro semestre ruim. “A incerteza aumentou e isso terá efeito em março, abril e maio. Como temos um cronograma de vacinação e a produção industrial acima do nível pré-pandemia, de pandemia, além de melhor confiança, o nosso cenário para o ano é de um segundo semestre melhor”, disse Campos Neto.
O BC revisou o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), de 3,8% para 3,6%, em 2020. “O que nem é muito se considerado o efeito carregamento. Há quem diga que é superotimista, mas não é, a previsão está até abaixo do mercado”.
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