MERCADO

Dólar vai a 5,75 e fecha com alta de 1,25% em meio a preocupações fiscais

Moeda americana apresentou alta de mais de 1% com receio de investidores. Ibovespa segue em alta com ativos de commodities

O dólar comercial opera sob pressão de alta nesta sexta-feira (26/3), superando o patamar de R$ 5,70 (desde 9 de março), reagindo às questões domésticas acerca da votação do Orçamento. A pressão para cima foi, contudo, moderada após a divulgação da inflação nos Estados Unidos (PCE — índice de preços de gastos de consumo pessoal), que veio marginalmente abaixo das expectativas do consenso de mercado.

Economista-chefe da Reag Investimentos, Simone Pasianotto explica que o mercado cambial abriu mal-humorado em virtude do resultado negativo na votação do Orçamento, encerrado na madrugada desta sexta-feira em Brasília. “Isso posto, dado que se consolida cada vez mais factível a possibilidade de “furar o teto” dos gastos, dadas às manobras parlamentares para retirar recursos das rubricas obrigatórias, como as previdenciárias e transferi-las para investimentos nos estados de interesse dos parlamentares”, explica.

A especialista alega ainda que o mercado financeiro está muito volátil. “Dados da pandemia, novas restrições para conter o avanço da pandemia, mais 15 dias de fase emergencial no estado de São Paulo. O temor é que a continuação do atual cenário leve a uma contração maior que o esperado para a economia nos próximos meses, com necessidade de mais gastos públicos, como os que sustentam o auxílio emergencial”.

Para Simone, no dia a dia dos brasileiros, a alta do dólar tem como principal consequência a pressão inflacionária sobre diversos produtos e serviços. “O impacto é direto e rápido sobre o preço da cesta básica, no pão nosso de cada dia e sobre todos os derivados do trigo, como massas em geral, dado que mais de 50% do trigo consumido no Brasil é importado. Outra consequência é que, com o real mais barato para quem compra produtos brasileiros do exterior, há uma tendência de os produtores locais optarem por exportar seus produtos, principalmente commodities agrícolas e carnes, o que deve gerar uma contração na oferta de tais produtos, com potencial elevação dos preços no mercado doméstico”, comenta.

Pasianotto continua: “Além disso, o setor de combustíveis, que é a base para toda logística da economia, também sofre o impacto da desvalorização cambial, visto que os preços dos combustíveis são diretamente atrelados ao câmbio. Adicionalmente, todo processo manufatureiro e varejista que depende de uma cadeia de insumos importados também será afetado, como os segmentos de eletroeletrônicos e do setor automotivo”.

Segundo a economista, hoje, o Ibovespa é negociado em alta, dando continuidade à recuperação de perdas iniciada ontem, numa tentativa de zerar essas perdas de pouco mais de 2% acumuladas nesta semana até ontem. “O movimento se dá em meio ao sinal positivo que prevalece nas bolsas e nas commodities no exterior, o que recupera o apetite global por risco. As ações correlacionadas às commodities são destaque dessa alta na Ibovespa, muito por conta da puxada do dólar. Siderúrgicas, como a Gerdau também se beneficiam dessa puxada externa das commodities. As ações de empresas brasileiras exportadoras de commodities podem aliviar a pressão sobre o ambiente de bolsa doméstico”, afirma.

O real foi avaliado como a quinta pior moeda do mundo em 2021, consequentemente, do outro lado da balança temos o aumento do dólar, que até tentou ser contido pela elevação da Selic na semana passada, mas segue subindo. Os fatores que influenciam este aumento atualmente estão ligados com o cenário político e econômico do país, somado à crise na saúde e ao risco fiscal.

Para Heloisa Sanchez, da equipe de Análise da Terra Investimentos, além disso, produtos básicos do dia a dia do brasileiro também são afetados, pois, o país acaba exportando mais do que deixando para o mercado interno, causando aumento da inflação, que segue em alta nos últimos tempos. “No mercado de hoje, o dólar continua subindo com a aprovação da Lei Orçamentária Anual de 2021, com emendas a serem votadas que podem elevar ainda mais os gastos e o déficit do país, além do possível risco fiscal”, comenta.

O mercado externo segue animado nos Estados Unidos com o anúncio de Powell no ontem sobre a retomada das recompras, assim como possibilidade de maior pagamento de dividendos a partir de junho. Além disso, o petróleo futuro segue em alta de mais de 4% devido ao navio encalhado no canal de Suez.

Heloisa Sanchez explica que aqui no Brasil, o Sputnik V irá realizar um novo pedido de uso emergencial para a Anvisa. “Dólar sobe após a aprovação da Lei Orçamentária Anual de 2021 com emendas que elevaram gastos, real já é a moeda de países emergentes que mais desvalorizou nos últimos tempos, além das emendas que ainda devem ser aprovadas; mercado teme que a continuidade da pandemia gera maiores gastos do que os esperados, gerando déficit fiscal. O Ibovespa também sobe com boas notícias da vacina do Butantan, a Butan Vac. Vice-governador de São Paulo anunciou prorrogação da fase emergencial até 11 de abril”.

*Estagiária sob a supervisão de