A pandemia vem afetando a conta de viagens internacionais desde o ano passado, por conta das restrições e fechamento de fronteiras de vários países. No entanto, em fevereiro de 2021, o deficit do saldo entre receitas de estrangeiros no país e gastos de brasileiros no exterior foi de apenas US$ 28 milhões, o menor desde 2005, quando houve superavit de US$ 16 milhões. Em fevereiro do ano passado, os gastos líquidos com viagens internacionais foram de US$ 403 milhões, o que representa um recuo de 93% na comparação dos dois períodos. Os dados foram divulgados, nesta sexta-feira (26/4), pelo Banco Central (BC).
Segundo o chefe do Departamento de Estatísticas do Banco Central (BC), Fernando Rocha, em fevereiro, as receitas totalizaram US$ 211 milhões e as receitas US$ 240 milhões. Em termos de entradas, o dado do mês passado configura o menor desde 2003, quando a receita foi de US$ 168 milhões. Os gastos de US$ 240 milhões são os mais baixos desde fevereiro de 2004, de US$ 181 milhões. “O valor líquido parcial até 23 de março é de um deficit de US$ 51 milhões”, disse.
Rocha destacou, porém, a necessidade de recuperar a trajetória da conta para entender o efeito da pandemia nas viagens internacionais. “Em janeiro de 2020, o deficit foi de US$ 764 milhões. Isso é da magnitude esperada para essa conta antes da pandemia. Historicamente, o saldo negativo é sempre em torno de US$ 900 milhões ou US$ 1 bilhão”, explicou.
Em fevereiro do ano passado houve uma queda, com deficit de US$ 403 milhões, já refletindo a pandemia. “Não interna, no Brasil. Mas de países asiáticos e europeus. Isso reduziu o fluxo de turistas desses países para o Brasil e do Brasil para esses países”, justificou Rocha. Em março de 2020, esse saldo negativo baixa para US$ 207 milhões e depois os deficits ficam em uma média mensal de US$ 100 milhões, de acordo com o chefe de Estatísticas do BC.
Abaixo da média mensal
Em janeiro, o número foi de US$ 39 milhões e, em fevereiro, de US$ 28 milhões, montantes muito abaixo da média mensal de 2020. “Os dois dados foram bastante influenciados pelas condições da pandemia global. De agora em diante, vamos ver um desempenho diferente, porque, quanto mais a gente avançar no ano, mais a base de comparação vai ter sido afetada pela pandemia”, assinalou.
Rocha explicou que somente a partir de abril o resultado refletirá o efeito cheio da pandemia. “Como, em termos percentuais, os dados vão se reduzir muito, será preciso avaliar o nível em si do dado de viagens ao longo de 2021, ou seja, o deficit nominal, para ver se se continua o cenário de restrição ou se haverá reação”, disse.
Carlos Vieira, ex-presidente da Associação Brasileira de Agências de Viagens (Abav-DF), disse que o dado divulgado pelo BC não surpreende. “Como agente do setor, eu espero que isso tenha fim o mais breve possível, mas, como cidadão, não consigo acreditar nisso. Não depende só do governo brasileiro, cada país solta uma regra nova, as companhias aéreas também”, explicou. Conforme ele, houve uma pequena reação no fim do ano passado, com algumas pessoas se arriscando a viajar para o exterior. “Mas muita gente não conseguiu desembarcar e voltou. Outros nem embarcaram por conta das restrições”, lamentou.