Confederação Nacional da Indústria (CNI) prevê crescimento de 3% na economia brasileira em 2021, em um cenário base, considerando o retorno da atividade econômica em maio deste ano, com a redução das medidas de isolamento social e controle da pandemia. Há, ainda, na avaliação da entidade, dois outros cenários: um otimista e outro pessimista. Os dados estão no Informe Conjuntural 1º trimestre 2021 divulgado pela entidade nesta segunda-feira (22/3).
Segundo o economista-chefe da CNI, Renato da Fonseca, esse crescimento é resultado de um fraco desempenho da economia, que vai se retrair no segundo trimestre. “Se o PIB ficasse constante no valor do último trimestre de 2020, ou seja, se a economia não crescesse durante 2021, na comparação entre o total produzido em 2020 e 2021, teríamos um crescimento de 3,6%, também conhecido como efeito carregamento”.
O PIB industrial crescerá 4,3% em 2021, uma vez que o efeito carregamento é de 4,9%. A nova estimativa também reflete o fraco desempenho durante o ano, em especial à queda esperada para março e abril. O crescimento do PIB industrial será puxado pela indústria de transformação, com alta de 5,7%; a indústria extrativa crescerá 2%; e a indústria de construção 4%.
A segunda onda da pandemia e seus efeitos sobre e economia tornam ainda mais urgentes as reformas estruturais, principalmente a reforma tributária, na avaliação da CNI. “Essa agenda deverá ser perseguida ao mesmo tempo em que se cuida dos problemas de curto prazo. Só assim o Brasil voltará a crescer a taxas superiores a 2% ao ano”, diz Renato da Fonseca.
Nos últimos 10 anos, a economia brasileira cresceu a uma taxa média anual de apenas 1%, enquanto a indústria de transformação encolheu 1% ao ano, em média. Para a CNI, não há mais tempo para se atacar um problema de cada vez. “A construção das bases para o crescimento sustentado deverá ser feita em paralelo às ações para amenizar os efeitos da crise. A agenda de aumento da competitividade, de redução do Custo Brasil, precisa caminhar em ritmo acelerado”, explica o economista-chefe da CNI.
Desemprego deve ficar em 14,6%
Como previsto no cenário base, a recuperação da atividade começará em maio e, no final do ano, com o avanço da vacinação, a CNI espera uma maior disposição para o consumo, sobretudo de serviços, que se encontram com a demanda reprimida. Os efeitos da retomada no mercado de trabalho devem ficar defasados, tendo início somente no início do segundo semestre.
Contudo, a taxa de desocupação deve crescer, destaca a CNI, e registrar um novo recorde no segundo trimestre de 2021, pois uma parcela da população que estava fora do mercado de trabalho, seja por desalento, seja por receio da pandemia, ou mesmo porque recebeu renda devido aos auxílios emergenciais, deverá voltar a procurar emprego.
O número de pessoas ocupadas será maior ao fim de 2021, na comparação com 2020. No entanto, com as pessoas voltando a procurar emprego, ou seja, com o crescimento da força de trabalho, a taxa de desocupação média de 2021 será de 14,6%, superior aos 13,5% observados na média de 2020.
Indústria preocupada com a inflação
O economista-chefe da CNI explica que a expectativa para o início do ano era de redução no crescimento da inflação, em razão de mais uma safra recorde e da tendência de valorização do real. A intervenção significativa do Banco Central, que aumentou a Selic em 0,75 pontos percentuais, mostra que esse cenário não se confirmou.
Os efeitos da safra e da valorização do real ainda se farão presentes na inflação. Ainda assim, há pressões pela alta dos preços entre os grupos de preços administrados, de produtos industriais e de serviços. No caso dos preços industriais há uma pressão de custo. Ocorre que, em 2020, a indústria absorveu boa parte do aumento do custo da produção e reduziu significativamente sua margem de lucro. Prova disso é que a inflação para o consumidor, medida pelo IPCA, foi de 3,36% em 2020, enquanto a inflação do produtor, medida pelo Índice de Preços ao Produtor (IPP) da Indústria de Transformação, foi de 18,15%, em igual período.
O IPCA deverá acumular um crescimento de 4,73% ao ano, acima da meta de inflação, de 3,75%, mas dentro do intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual para baixo ou para cima. Os preços administrados terão a maior contribuição sobre o IPCA este ano, dado seu peso na composição do índice. O esperado crescimento se deve ao adiamento de reajustes de tarifas como transporte público, água, esgoto e preços de planos de saúde, de 2020.
Real deve terminar 2021 valorizado
O Informe Conjuntural também prevê, que em 2021, a moeda brasileira vai apresentar tendência de valorização, sobretudo no segundo semestre, com a taxa de câmbio fechando o ano em torno de R$ 4,70 por US$ 1. O resultado da balança comercial será positivo, mas o superavit deve crescer pouco em relação a 2020, estima.
O cenário é favorável às exportações, pois espera-se maior crescimento da demanda externa em comparação com a demanda doméstica. “As importações também crescerão, puxadas pela recuperação da atividade econômica, mas o aumento das importações não será suficiente para anular o efeito positivo do aumento das exportações sobre o PIB”, pontua Renato da Fonseca.
*Estagiária sob a supervisão de Andreia Castro