A alta da taxa básica de juros (Selic) não vai parar nos 2,75% anuais anunciados, na semana passada, pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC). A expectativa do mercado é que a Selic chegue a até 5% no fim de ano, por conta da inflação. Por isso, muitos brasileiros estão fazendo as contas para entender qual o melhor investimento neste momento. Especialistas dizem, no entanto, que, apesar de a alta dos juros melhorar o rendimento da caderneta de poupança e de outras aplicações em renda fixa, ainda é indicado apostar na renda variável para ter retornos atrativos, apesar dos riscos.
Foi por conta da queda dos juros básicos, que saíram de 14,25% para 2% ao ano nos últimos seis anos, que muitos brasileiros passaram a se arriscar mais no mundo dos investimentos. A partir do momento em que a taxa básica atingiu pisos históricos, a remuneração de aplicações conservadoras também diminuiu e muitos aplicadores passaram a olhar para a renda variável, apesar dos riscos. Não à toa, mais de dois milhões de brasileiros começaram a investir na Bolsa de Valores de São Paulo (B3) entre 2019 e 2020.
Analistas, contudo, descartam um fluxo migratório de investidores deixando a Bolsa para retornar à renda fixa devido à baixa atratividade. “A taxa básica tem uma relação direta com os produtos de renda fixa. Juros maiores representam uma remuneração nominal maior dos títulos de renda fixa. Mas, por enquanto, os títulos terão um retorno nominal um pouco maior, mas, do ponto de vista de investimento, uma taxa de 2,75% ao ano não enche os olhos. Por isso, quem migrou para a renda variável nos últimos anos por conta da queda dos juros ainda tem motivos para ter ações em seu portfólio”, afirma o educador financeiro (CFEd) e principal executivo (CEO) da Empreender Dinheiro, Arthur Lemos.
Os títulos do Tesouro Direto que são corrigidos pela Selic, as Letras Financeiras do Tesouro (LFTs), por exemplo, estavam pagando 2% e agora passam para 2,75% ao ano. O mesmo vai ocorrer com os Certificados de Depósito Bancário (CDB) que acompanham a Selic por meio do Certificado de Depósitos Interbancários (CDI). Já a poupança rende 70% da Selic quando os juros estão abaixo de 8,5%. Com isso, a remuneração, antes de 1,4% ao ano, passou para 1,93% ao ano, ou seja, continua perdendo para o Índice de Preços do Consumidor Amplo (IPCA), que registrou alta de 5,20% no acumulado em 12 meses até fevereiro.
“A Selic subiu e vai continuar subindo, mas o juro real dos investimentos sem risco continua muito próximo de zero. Nossa previsão é que a Selic feche o ano em 5% ao ano e que a inflação fique em torno de 4,9% anuais. Ou seja, é um ganho real muito perto de zero, que fica negativo quando é descontado o Imposto de Renda (IR). Por isso, quem investe pensando em ganhar dinheiro ainda precisa tomar um pouco de risco. Não vemos uma debandada das ações, nem dos fundos imobiliários para a renda fixa”, destaca Paula Zogbi, analista da Rico Investimentos.
Por conta da perspectiva de alta do custo de vida, por sinal, os analistas recomendam reservar uma parcela maior dos recursos destinados à renda fixa para os títulos atrelados ao IPCA, que pagam a variação da inflação oficial mais um prêmio de risco. O Tesouro IPCA+ com vencimento em 2026, por exemplo, está pagando a inflação e uma taxa de 3,26% ao ano. Já os títulos prefixados são vistos como mais arriscados diante da alta dos juros, pois não estão pagando muito mais do que os 5% projetados para a inflação.
“Se o investidor quer ter exposição à renda fixa, o melhor caminho é o Tesouro Direto. Mas, se a expectativa é de que os juros vão subir por conta da alta da inflação, ele deve evitar os títulos prefixados. Já a LFT é importante como um ativo de liquidez imediata. E o Tesouro IPCA é uma boa opção a médio prazo, porque assegura retorno real, protege o investidor da inflação”, orienta Lemos. Também é possível investir na renda fixa por meio de fundos de investimento e títulos privados, como as debêntures.