Governo

Brandão cansou de esperar

Executivo abreviou a indefinição do governo e comunicou a saída da presidência do banco. Substituto escolhido é Fausto de Andrade Ribeiro, funcionário de carreira e presidente do BB Consórcio. Permanece o risco de intervenção política

Com a saída do governo encomendada já há algum tempo, o presidente do Banco do Brasil (BB), André Brandão, renunciou ao cargo ontem. Apesar de esperada, a troca pegou o mercado de surpresa e fez o governo de Jair Bolsonaro correr para definir o nome do sucessor de Brandão: o indicado foi o presidente do BB Consórcio, Fausto de Andrade Ribeiro. Conforme fato relevante divulgado ontem à noite pelo Banco do Brasil, Brandão já entregou o pedido de renúncia ao presidente Bolsonaro, ao ministro da Economia, Paulo Guedes, e ao presidente do Conselho de Administração do BB, Hélio Magalhães. O executivo, que deixou um posto de comando do HSBC nos Estados Unidos há seis meses para assumir a presidência do BB, fica no cargo só até o fim do mês.

Brandão já havia colocado o cargo à disposição do governo, por conta da indisposição com o presidente Bolsonaro. O mandatário não gostou do plano de reestruturação anunciado no início deste ano pelo Banco do Brasil, com o objetivo de fechar 361 unidades de atendimento e desligar 5,5 mil funcionários. E o executivo, que à época escapou da demissão, também se mostrou incomodado com o fato de estar na lista de demissíveis de Bolsonaro e com as restrições políticas que atrapalham a implementação de uma agenda liberal, de modernização e redução de custos no BB.

O sucessor de Brandão, no entanto, ainda não havia sido definido pelo Palácio do Planalto até ontem à noite, quando a renúncia de Brandão veio a público. O presidente Bolsonaro vinha ponderando sobre os nomes há quase um mês, pois desejava entregar o comando do banco a um executivo de perfil diferente, mais parecido com o do presidente da Caixa, Pedro Guimarães, que possui bom trânsito político e tem aberto agências pelo país. Porém, Bolsonaro também já havia dito que privilegiaria um nome com experiência no setor, para evitar turbulências no mercado, que teme interferências políticas no BB.

Como Brandão não quis mais esperar essa escolha, o governo correu para anunciar, ainda ontem à noite, o nome do próximo presidente do BB. O indicado foi o administrador Fausto de Andrade Ribeiro, que é funcionário de carreira do banco e atua como diretor-presidente do BB Consórcio desde setembro do ano passado — mês que também marcou o início da gestão Brandão. “Em razão da renúncia, nesta data, do Sr. André Guilherme Brandão dos cargos de integrante do Conselho de Administração e de Presidente do Banco, será encaminhado para análise do Comitê de Pessoas, Remuneração e Elegibilidade da Companhia, para o preenchimento das respectivas vagas, o nome do Sr. Fausto de Andrade Ribeiro”, informou o Ministério da Economia.

Incertezas

A escolha de um nome técnico, no entanto, não afasta as incertezas do mercado sobre o rumo do banco. Assim como o Conselho de Administração, o mercado entende que Brandão vinha fazendo um bom trabalho e teme que a troca no comando da instituição atrapalhe o plano de reestruturação do banco, que é visto como algo fundamental para o aumento da rentabilidade do BB. Por conta disso, analistas projetam um dia de queda das ações hoje. “Apesar de os papéis já estarem sendo penalizados desde o início do ano, a confirmação da saída de Brandão, que era um nome forte no mercado, traz um mau humor adicional. Agora, é ver o discurso do nome escolhido, para ver se ele vai implementar o programa de reestruturação ou fazer o que o governo quer”, afirmou o analista da Guide Investimentos Henrique Esteter.

Brandão é o segundo presidente do BB a deixar o posto no governo de Jair Bolsonaro, depois de Rubem Novaes, e também engrossa a lista de baixas da equipe econômica. O ministro da Economia, Paulo Guedes, já perdeu outros 15 colaboradores nos últimos meses, sobretudo, por conta da dificuldade de implementação de medidas liberais, como as reformas e as privatizações.

 

 

 

Apesar do lucro menor, Caixa reage

Último grande banco a divulgar os resultados financeiros de 2020, a Caixa Econômica Federal viu o lucro líquido cair 37,5% no ano passado, a R$ 13,169 bilhões, por conta da pandemia de covid-19. Porém, já vem se recuperando desse baque e projeta bons negócios neste ano, inclusive com a listagem do Caixa Tem na Bolsa de Valores.

“Tivemos um resultado que foi, certamente, impactado pelas questões da covid, mas, de qualquer maneira, foi um resultado muito forte”, comentou o presidente da Caixa, Pedro Guimarães. Ele explicou que a redução dos juros comprimiu as receitas e a margem financeira do banco no ano passado, quando a Caixa também precisou ampliar as despesas administrativas para dar conta dos pagamentos do auxílio emergencial e as provisões contra devedores duvidosos.

Guimarães também destacou que, passado o baque do início da pandemia, a Caixa conseguiu reorganizar a operação comercial. Tanto que a carteira de crédito do banco cresceu 13,5%, fechando o ano com um saldo de R$ 787,4 bilhões, puxada pelo aumento do crédito imobiliário, mas, também, do crédito consignado e do financiamento às micro e pequenas empresas.

Por conta disso, o lucro líquido da Caixa está reagindo. Segundo o balanço do banco, o indicador cresceu 200% entre o terceiro e o quarto trimestre de 2020, alcançando R$ 5,671 bilhões. O resultado também é 15,8% maior que o do mesmo período de 2019. E, segundo Guimarães, pode se repetir neste ano.

Crédito acelerado

O executivo explicou que a concessão de crédito continua acelerada neste ano, garantiu que a inadimplência não subiu por conta do fim dos auxílios lançados no início da pandemia e disse que, por isso, o banco não pretende aumentar suas provisões por enquanto.

Além disso, a Caixa tem uma agenda ambiciosa de operações no mercado financeiro neste ano. A ideia é abrir o capital da Caixa Seguridade e vender as ações que a instituição detém do Banco Pan. Também está em estudo a abertura de capital da gestora da Caixa e da bandeira de cartões Elo, na qual o banco tem uma participação importante. E a instituição ainda está aguardando a autorização do Banco Central para fazer o lançamento oficial do seu ‘banco digital’. A ideia é tornar o Caixa Tem uma empresa independente, com ações listadas na Bolsa, tanto no Brasil quanto no exterior. (MB)