Apesar da forte desaceleração da economia, especialistas consultados pelo Correio afirmam que o Banco Central terá que enfrentar o desafio de elevar a taxa básica de juros (Selic, atualmente em 2% ao ano) ainda neste mês de março. A maioria das apostas vão de alta de 0,25 a 0,75 ponto percentual. A medida está sendo vista como o melhor remédio para conter os impactos do dólar sobre a inflação. Isso porque os investidores acompanham com lupa o desempenho dos juros futuros, o que acontece toda vez que o país se vê diante de uma crise ou instabilidade política.
Para André Perfeito, economista-chefe da Necton Investimentos, a majoração vai “equalizar nossa taxa de juros com o risco percebido e o risco Brasil”. Ele ressalta que o país é um dos países que menos pagam juros livres de risco do mundo (abaixo de África do Sul, Colômbia, Filipinas, Indonésia, México e Turquia), e isso acaba fazendo o dólar subir. “No limite, o cenário doméstico piorou muito, e isso não foi acompanhado pelos juros. Subir a taxa agora pode não ser ruim. Afinal, os juros longos estão altos demais. Subir a Selic pode fazer com que os longos caiam”, destaca. Ele aposta em avanço de 0,25 ponto percentual.
No entendimento do economista Cesar Bergo, sócio-investidor da corretora OpenInvest, o BC tenderia a manter a Selic onde está, nos 2%. “Mas considero um pequeno grau de bom senso e em uma elevação de 0,25 ponto percentual. Eventual letargia do BC na condução da política monetária vai custar muito caro para o país”, alerta. A crescente pressão inflacionária e o aumento da taxa de juros americana formam um cenário favorável à elevação de até 0,50 ponto percentual, segundo ele. “A questão é uma só: houve evidente piora das condições relacionadas ao risco e o BC procura acalmar os ânimos”, diz.
Alerta ligado
A segunda semana de março pode ser decisiva e apontar um norte para o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, na análise da equipe econômica do Bradesco. Em seu relatório, aconselha os investidores a prestarem atenção aos indicadores de atividade. “O resultado das vendas do varejo e do setor de serviços referentes a janeiro serão o destaque da agenda doméstica. Com o IPCA de fevereiro, são importantes indicadores para a definição da taxa de juros pelo Banco Central, no dia 17 de março”, indica o banco.
Ontem, o presidente do BC, Roberto Campos Neto, falou em dois eventos on-line fechados, para instituições financeiras. Fontes que assistiram à apresentação disseram que, além dos números que ele mostra sempre, o principal recado foi em relação ao chamado forward guidance (orientação futura). O mercado estava ansioso por explicações. “Porque, na última ata do Copom, o BC deu a entender que o abandono do forward guidance implicaria no aumento automático da taxa de juros. E, agora, Campos Neto tenta convencer que não se trata de um procedimento automático”, disse a fonte ao Correio.