Conjuntura

Avanço da covid-19 atrapalha e produção industrial cresce apenas 0,4%

Baixo crescimento em janeiro indica que a economia está perdendo força neste início de ano, com recuo na maior parte das atividades pesquisadas. Resultado foi o pior desde abril do ano passado, influenciado pela crise na Zona Franca de Manaus

Pressionada pelo recrudescimento da pandemia da covid-19, a indústria brasileira cresceu apenas 0,4% em janeiro deste ano. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o resultado foi o pior desde abril do ano passado e foi influenciado pela crise sanitária no estado do Amazonas, que derrubou a produção de eletrônicos e motocicletas na Zona Franca de Manaus. De acordo com o IBGE, a indústria brasileira vem se recuperando há nove meses consecutivos do tombo recorde de 19,5% registrado em abril de 2020, quando a disseminação do novo coronavírus exigiu o fechamento de várias fábricas pelo país. Porém, perdeu fôlego neste início de ano, já que vinha registrando taxas mais robustas de crescimento até dezembro do ano passado.

“Observamos a manutenção do comportamento positivo do setor industrial, mas com desaceleração no seu ritmo no mês de janeiro”, afirmou o gerente da Pesquisa Industrial Mensal (PIM) do IBGE, André Macedo. “Também chama a atenção neste mês a quantidade de ramos que ficaram no campo negativo, que foram maioria (14 de 26), um comportamento que não foi observado nos meses anteriores dessa sequência de nove meses de crescimento”, acrescentou.

Segundo o IBGE, o que sustentou o resultado positivo da indústria no início deste ano foi a produção de alimentos, que cresceu 3,1% em janeiro, depois de três meses de queda. Atividades importantes como a metalurgia (13,9%), a produção de equipamentos de informática, eletrônicos e ópticos (-10,6%) e outros equipamentos de transporte (-16,0%), no entanto, apresentaram contrações significativas.

O que explica boa parte desse baque, de acordo com Macedo, é o agravamento da pandemia do novo coronavírus no Amazonas. É que, diante do colapso do sistema de saúde local, o governo limitou o horário de funcionamento das fábricas de eletroeletrônicos da Zona Franca de Manaus, e a Honda decidiu suspender a produção local de motocicletas no início do ano. “Os efeitos da pandemia naquele estado ficam muito evidentes na produção de bens de consumo duráveis, que vinha positiva desde maio e interrompe esse ciclo neste mês”, afirmou o gerente do IBGE.

Isolamento

Para analistas, o impacto do novo coronavírus na produção industrial em Manaus alerta para o efeito que o aumento de casos da doença pode ter na economia brasileira neste início de ano. Analista da Guide Investimentos, Alejandro Ortíz lembrou, por exemplo, que o recrudescimento da pandemia pode ter um impacto ainda maior no setor de serviços, que responde pela maior parte do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil e é mais sensível ao contato social do que a indústria.

O economista sênior da Confederação Nacional do Comércio (CNC), Fábio Bentes, disse que o comércio pode cair em janeiro, já que foi afetado negativamente pelo aumento do distanciamento social e também pelo fim do auxílio emergencial no início do ano. Por conta disso, analistas projetam um resultado negativo para o PIB do Brasil deste primeiro trimestre e avaliam que a crise na saúde também pode impactar o PIB do segundo trimestre, sobretudo se o vírus exigir novas medidas de isolamento nas próximas semanas.

“Há uma preocupação com o que vai acontecer com a pandemia. Já voltamos a ter restrições de circulação da população em muitas cidades. Isso afeta o consumo. E não sabemos se a velocidade de contágio da covid-19 vai cair ou ainda vai exigir novas restrições. Se a crise se intensificar, vamos dar um passo para trás”, reforçou o gerente-executivo de economia da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Renato da Fonseca. Ele lembrou que, não bastasse isso, a indústria continua sofrendo com falta de insumos. Por isso, também não descarta uma queda da produção industrial em fevereiro.

Investimento em frota sustentável

Empresas brasileiras decidiram investir em frotas de veículos menos poluentes. A multinacional Ambev encomendou 2,6 mil caminhões elétricos, que serão produzidos no país pela Volkswagen Caminhões e Ônibus e pela Fábrica Nacional de Mobilidade (FNM). Além disso, fechou parceria com a Eletra para converter, inicialmente, 102 veículos a diesel em elétricos, processo conhecido como retrofit. A CPFL Energia, por sua vez, lançou nesta semana projeto piloto na cidade de Indaiatuba (SP) para utilizar apenas carros movidos a eletricidade na prestação de serviços aos cerca de 90 mil clientes da cidade. O projeto inclui o uso de 20 veículos elétricos em serviços de manutenção da rede elétrica municipal. Segundo a CPFL Energia, há planos de estender a eletrificação da frota em outras cidades.