CONJUNTURA

Fed mexe com o humor da B3

Mercado vinha se comportando bem, satisfeito com a aprovação da PEC Emergencial e que o Bolsa Família ficou dentro do teto de gastos. Mas bastou Jerome Powell avisar que os EUA vão demorar para se recuperar para influenciar nos resultados

Quando tudo parecia que ia se acalmar no mercado acionário brasileiro, com as notícias da aprovação da PEC Emergencial pelo Senado, o movimento de alta do Ibovespa –– índice que mede o desempenho das principais ações da Bolsa de Valores (B3) –– sofreu o impacto que veio do exterior, com as declarações do presidente do Federal Reserve (Fed, o Banco Central americano), Jerome Powell. Ele alertou que a economia dos Estados Unidos vai trilhar um longo caminho antes da recuperação e que a política monetária se manterá acomodada até que se retorne ao patamar do pleno emprego no país. Com isso, a B3 reduziu os ganhos e o real se desvalorizou frente ao dólar.

Ao fim, a B3 conseguiu sustentar alta de 1,35%, aos 112.690 pontos tendo oscilado entre mínima de 111.163 e máxima de 114.433 pontos, com giro financeiro reforçado de R$ 52,1 bilhões. Nesta primeira semana de março, o Ibovespa avança 2,41%, segurando as perdas do ano em 5,32%.

Já o dólar, depois de bater em R$ 5,67, encerrou o dia a R$ 5,658 para compra e a R$ 5,66 para a venda, com queda de 0,12%. “O mercado estava bem na largada, repercutindo a possibilidade de controle fiscal. Mas as declarações do Powell trouxeram oscilações e temor nos investidores. Infelizmente é assim. Qualquer mudança estressa e desestabiliza os que querem aplicar”, afirmou Jason Vieira, economista-chefe da Infinity Asset.

Os próximos dias, afirmou Vieira, deverão ser de grande expectativa, pois a tramitação da PEC Emergencial ainda não está encerrada –– será analisada pela Câmara dos Deputados. “Há algum tempo, a questão política vem contaminando a economia. Ainda precisamos constatar como as coisas vão se arrumar no Congresso”, reforçou.

A confirmação de que o Bolsa Família ficou dentro do teto de gastos contribuiu para afastar, de momento, o pior cenário antecipado pelo mercado, de descontrole das contas públicas em benefício de uma guinada populista, não comprometida com a responsabilidade fiscal. “Tudo que envolve contabilidade criativa para financiar gastos públicos é motivo para uma resposta negativa do mercado”, observou Rafael Ribeiro, analista da Clear Corretora.

Para André Perfeito, economista-chefe da Necton Investimentos, “o bom andamento da PEC Emergencial deve manter o bom humor do investidor no curto prazo”. Ele lembrou que o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), anunciou que a proposta de emenda constitucional, aprovada ontem pelos senadores, foi recebida pela Casa e começará a ser discutida na próxima terça-feira, com votação prevista para o dia 10. A relatoria está a cargo do deputado Daniel Freitas (PSL-SC), que pertence à ala bolsonarista do partido e deverá manter o texto que veio do Senado.