BANCO CENTRAL

Juros do cheque especial voltam a subir no mês de fevereiro

Taxa anual de empréstimos bancários no cheque especial registra quarta alta mensal consecutiva e atinge 124,9%, maior patamar desde março de 2020

Rosana Hessel
postado em 29/03/2021 15:16 / atualizado em 29/03/2021 15:17
 (crédito: Agência Brasil - 30/7/13)
(crédito: Agência Brasil - 30/7/13)

Antes mesmo de o Banco Central elevar a taxa básica de juros (Selic) de 2% para 2,75% anuais, o custo dos empréstimos já estava ficando mais caro para as famílias brasileiras. No cheque especial, uma das principais modalidades utilizadas pelos mais enforcados, por exemplo, as taxas voltaram a crescer pelo quarto mês consecutivo, apesar de a média para o crédito pessoal ter ficado em 33,2%, mesmo patamar de janeiro.

Os juros cobrados pelos bancos privados nas operações cheque especial para a pessoa física passaram de 120,3%, em janeiro, para 124,9%, em fevereiro, conforme dados do Banco Central divulgados nesta segunda-feira (29/03), no relatório de estatísticas do mercado de crédito. É o maior patamar desde março e fevereiro de 2020, quando essa taxa ficou em 130,6%.

Segundo a pasta, o volume de concessões nessa modalidade, que é uma das mais caras do sistema financeiro, saltou 3,6% no mesmo período, somando R$ 20,2 bilhões. É o maior patamar desde junho de 2020, de acordo com o chefe do Departamento de Estatísticas do BC, Fernando Rocha. 

Os juros do cartão de crédito tiveram comportamento difuso, com queda no rotativo mas alta no parcelado. As taxas anuais do rotativo passaram de 329% para 326,7%, entre janeiro e fevereiro deste ano. E, as do parcelado, de 161,5% para 167,1%, na mesma base de comparação. Esse é o patamar mais elevado desde março do ano passado, quando os juros cobrados no parcelado estavam em 188,9% ao ano.

O relatório do BC mostra que custo médio do crédito pessoal consignado para a pessoa física ficou praticamente estável, em 18,8% ao ano. Já as taxas de juros para a compra de veículos, passaram de 20,2% para 20%, mas continuam no maior patamar desde abril, quando os juros anuais eram de 20,4%.

O técnico do BC reconheceu que, devido à alta da Selic, no último dia 17, e a sinalização do Comitê de Política Monetária (Copom) de que novos aumentos nos juros básicos estão por vir, a tendência mais provável é de que os custos dos financiamentos devem aumentar daqui para frente. “A taxa básica define o padrão para as demais e não estamos falando ainda de uma relação da proporção a partir do movimento da Selic”, disse.

Rocha minimizou, no entanto, o aumento da taxa média de inadimplência, que passou de 2,1%, o menor patamar da história, para 2,3%. Ele lembrou que, no caso da pessoa física, esse percentual passou de 2,9% para 3% nos empréstimos totais, e, no crédito com recursos livres, essa taxa está em 4,1%, "o menor percentual desde o início da série histórica, iniciada em março de 2011".

Enquanto isso, os empréstimos às famílias tiveram queda na comparação sem ajuste sazonal. As concessões totais de crédito somaram R$ 313,9 bilhões em fevereiro, registrando aumento de 3,9% no combinado, mas com recuo de 0,7% nos empréstimos às famílias, em relação a janeiro. Já os financiamentos para as empresas apresentaram alta de 9% na mesma base de comparação. O técnico do BC também minimizou esse dado, "devido aos efeitos sazonais", pois, segundo ele, "na série ajustada sazonalmente, houve crescimento de 6% nas concessões totais sendo 4,7% de alta para a pessoa jurídica e 6,5% para a pessoa física".

O spread geral das taxas das concessões de crédito do sistema financeiro, 15,6 ponto percentual, com queda de 0,2 ponto no mês, segundo os dados do BC para esse indicador que inclui a margem de lucro dos bancos e os custos operacionais.

O Banco Central indicou queda nas taxas médias de juros das operações de crédito em fevereiro, de 0,3 ponto percentual (p.p.), para 19,8%. O Indicador de Custo do Crédito (ICC), que apura o custo médio de toda a carteira ativa do sistema financeiro nacional, apresentou alta de 0,2 ponto, situando-se em 17,2% ao ano.

 

Saldo de operações em alta

O saldo das operações de crédito do Sistema Financeiro Nacional registrou aumento de 0,7%, em fevereiro, totalizando R$ 4 trilhões, distribuídos entre carteiras de pessoas jurídicas (de R$1,8 trilhão e variação de 0,6%) e de pessoas físicas (R$2,3 trilhões; 0,8%), conforme dados do Banco Central.

No acumulado em 12 meses até fevereiro, o saldo das operações de crédito cresceu 16,1%, com avanço de 22,9% na mesma base de comparação do crédito às empresas, e às famílias, 11,3%.

O técnico do BC avaliou que os dados parciais indicam uma "tendência de crescimento nas operações de crédito ao longo do ano". Contudo, se considerarmos as previsões do BC no Relatório Trimestral de Inflação (RTI) divulgado na quinta-feira, que prevê 8% de crescimento no mercado de crédito, é provável uma desaceleração nos próximos meses, já que, no acumulado em 12 meses até fevereiro, o setor registrou avanço de 16,1% nas operações de crédito.

O crédito livre para as pessoas físicas totalizou R$ 1,2 trilhão, com altas de 0,7%, no mês, e de 10,3% em 12 meses. “O crescimento no mês reflete principalmente o aumento observado nas modalidades de crédito pessoal (consignado e não consignado), enquanto, em doze meses, destaque também para as modalidades aquisição de veículos e composição de dívidas”, informou a nota do BC.

 

Dívida pública impulsiona crédito ampliado

Conforme os dados do Banco Central, o crédito ampliado ao setor não financeiro cresceu 1,6% em fevereiro, totalizando R$ 12,3 trilhões, o equivalente a 164% do PIB, crescimento de 1,6% no mês, em grande, parte, devido ao aumento da dívida pública, de 2,2% na mesma base de comparação. No acumulado em 12 meses, a alta foi de 17,8%.

"Esse crescimento foi impulsionado pelo forte aumento da dívida bruta do governo federal, que está relacionado ao aumento das emissões para financiar o deficit público e pela forte desvalorização cambial, que elevou o custo da dívida externa tanto do governo quanto das empresas", justificou o técnico do BC. 

O crédito ampliado às empresas cresceu 1,1% no mês e 18% em 12 meses, somando R$ 4,3 trilhões, ou 57,3% do PIB. Segundo a autoridade monetária, destacaram-se os aumentos nos empréstimos, “tanto no mercado doméstico quanto os que integram a dívida externa”.

O crédito ampliado às famílias cresceu 0,7%, no mês passado, e 10,9%, em 12 meses, somando R$ 2,5 trilhões, ou 33,1% do PIB, puxado pelos empréstimos imobiliários, que avançou 0,8% no mês e 11,3% no acumulado em 12 meses até fevereiro.

De acordo com Fernando Rocha, o volume elevado de empréstimos de matrizes no exterior para subsidiárias no Brasil, também afetaram o fluxo de entrada de Investimento Direto no País (IDP), que foi apontado no relatório do setor externo. “Dos US$ 9 bilhões de recursos que acabaram entrando no país, dois terços, ou seja, US$ 6 bilhões foram empréstimos intercompanhias, e, considerando uma taxa de câmbio de R$ 5,5, isso representa R$ 33 bilhões, aproximadamente”, destacou.


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