O aumento de impostos no meio da pandemia será inevitável, na avaliação do economista Tony Volpon, ex-diretor do Banco Central e estrategista-chefe da gestora WHG, durante o segundo painel do seminário on-line Correio Talks: Desafios para o Brasil no pós-pandemia, realizado, nesta terça-feira (23/3), pelo Correio, em parceria com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae). Para ele, devido à falta de interesse claro, tanto do governo quanto do Congresso Nacional, na busca de cortes no Orçamento deste ano para reduzir o endividamento público e incluir despesas emergenciais no combate à covid-19, que podem ser maiores do que a previsão de R$ 44 bilhões do novo auxílio emergencial, a saída será o aumento de tributos para fazer frente a esse aumento de gastos.
O ex-diretor do BC criticou o fato de que o compromisso de um ajuste fiscal via corte de gastos tenha ficado, consistentemente, para depois e acredita que sem aumentar imposto não será possível manter um estado inchado e ineficiente com um nível de despesas no patamar atual, que, consequentemente, estoura no aumento de endividamento.
“O que não se pode fazer é ficar brincando que o ajuste vai vir amanhã e esse amanhã nunca chega”, lamentou Volpon. “Parece que não há vontade de cortar os gastos, e todos ficam, simplesmente, jogando o problema na dívida pública crescente, e, como tem aumento de juros que faz a dívida crescer mais ainda, o país está contratando uma crise futura”, alertou ele, durante o segundo painel do evento, do qual também participaram os economistas Alberto Ramos, do Goldman Sachs, e Solange Srour, do Credit Suisse. Ambos concordaram com essa possibilidade e alertaram para os riscos do baixo crescimento do país com uma carga tributária, que já é elevada e crescente.
Para o ex-diretor do BC, o desafio do país pós-pandemia será justamente o crescimento e, para isso, será preciso fazer o dever de casa que não é feito, porque ele passa justamente pelo ajuste fiscal. “O caminho está aí e não há nada de novo que nos condene a mais 10 anos perdidos de baixo crescimento. Não estamos condenados, mas a responsabilidade é coletiva”, destacou. Contudo, ele ressaltou que essa solução pode ser uma combinação de aumento de carga tributária com o corte de gastos.
Atualmente, a dívida pública bruta já está em patamares elevadíssimos, em torno de 90% do Produto Interno Bruto (PIB), enquanto a média de países emergentes gira em torno de 50% do PIB. Volpon frisou que, um endividamento tão elevado não permite crescimento robusto e, se ela continuar crescendo sem parar, o custo disso mais à frente será “uma crise com fortíssimo impacto na inflação”. “Nessa dinâmica de não fazer escolhas, vamos ter uma crise fiscal em algum momento e será muito pior para todo mundo”, frisou.
Volpon ressaltou que, devido ao recrudescimento da pandemia neste início de ano, uma retração da atividade é inevitável, e, para que a economia consiga crescer na segunda metade do ano, aumentar o ritmo no processo de vacinação será fundamental, apesar de o país ter dados de imunização parecidos com o de economias emergentes.
“Levando em conta que estamos em um processo contínuo da vacinação, será possível observar uma recuperação no segundo semestre que vai deixar a economia em um patamar que não haverá crescimento de fato. As previsões em torno de 3% são basicamente o carry over (carregamento estatístico do PIB de 2020). O mercado já trabalha com queda na margem. Este ano será perdido”, avaliou. Para ele, a resposta fiscal do governo com a aprovação da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) Emergencial, que permitiu a criação do auxílio emergencial de R$ 44 bilhões, foi inadequada. “O consumidor vai entrar no processo de recuperação muito mais fraco”, afirmou.
Ano perdido
Volpon lembrou que o Banco Central iniciou um processo de elevação da taxa básica de juros (Selic), o que é correto devido à pressão inflacionária, mas reconheceu que uma Selic mais alta terá efeito negativo na retomada. Ele ainda destacou que a autoridade monetária errou na avaliação nas reuniões anteriores. “O BC ficou esperando uma notícia positiva que não veio. Ele comprou uma aposta que deu errado”, resumiu.
Na avaliação do economista, se o país não fizer a escolha entre corte de gastos e aumento de carga tributária, ele continuará vivendo a ilusão da promessa de que o ajuste virá em algum momento. Segundo o economista, que vive nos Estados Unidos, o investidor estrangeiro está de olho nisso e, por isso, tem muito receio em vir ao país. “A imagem do Brasil para o investidor estrangeiro tem sido bastante negativa nos últimos anos devido a essa instabilidade financeira e fiscal e do baixo crescimento”, resumiu.
O ex-diretor do BC lembrou que o investimento estrangeiro direto encolheu no ano passado e não há sinais de que pode se recuperar neste ano. Contudo, acrescentou que alguns ainda acabam aproveitando as poucas oportunidades que existem, como no setor exportador, que deverá continuar impulsionado pelo forte aumento de demanda global de commodities. "Esse boom é menor do que o do passado", disse.
A abertura do Correio Talks foi realizada pelo presidente do Congresso Nacional, senador Rodrigo Pacheco (DEM-MG), que reforçou a necessidade de vacinação em massa e mais ágil. O encerramento ficou a cargo do secretário do Tesouro Nacional, Bruno Funchal.