Com a maior geração de empregos formais em 2020, criando 108,5 mil novos postos de trabalho, a construção civil atravessou a pandemia com desempenho melhor do que em 2019. Porém, no início deste ano, o setor perdeu tração diante do aumento de casos de covid-19 no país e incertezas sobre a evolução da pandemia. As informações são de Ieda Vasconcelos, economista da Câmara Brasileira da Indústria da Construção Civil (CBIC), que participa do seminário on-line Correio Talks: "Desafios para o Brasil no pós-pandemia", realizado, nesta terça-feira (23/3), pelo Correio em parceria com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae).
Segundo Ieda, uma das justificativas para o bom desempenho da construção civil foi a queda de juros, com a Selic atingindo o piso histórico em 2020, de 2% ao ano, o que elevou o número de unidades vendidas em 9,8% no ano passado em relação a 2019. “O que contribuiu para a venda das unidades novas foi o aumento do crédito habitacional, com recursos da caderneta de poupança, com 58% de crescimento em 2020. Essa alta continua em janeiro de 2021. Em 12 meses, terminados em janeiro, o número de unidades financiadas em relação a igual período anterior subiu 49%”, explicou.
Ieda ressaltou que, no primeiro mês deste ano, a construção civil criou 44 mil novas vagas, o melhor resultado para janeiro desde 2010. “O que ocorreu para essa geração de vagas foi que todos os segmentos da construção registraram dados positivos, com destaque para construção de edifícios”, destacou.
Perspectiva
Para este ano, a expectativa da CBIC era de um crescimento de 4% do setor. No entanto, segundo Ieda, esse dado será revisto para baixo em abril, por conta de uma desaceleração da atividade. “Em janeiro, a redução se justifica pela sazonalidade. É um período chuvoso, que paralisa as obras. Porém, também tivemos agravamento da incerteza da evolução da pandemia”, assinalou.
Mas não é só isso, garantiu a economista. “Desde o final do ano passado, há aumento de custos dos insumos. E esse é o maior problema para 2021. Além da alta nos preços das matérias-primas, há desabastecimento”, lamentou. Ela ressaltou que o Índice Nacional de Custos da Construção teve alta de 11% em fevereiro, desde 2019, enquanto a mão de obra subiu 3% e o custo global com material, 21%. “Quando a gente desagrega, tivemos alta de mais de 58% nos vergalhões de aço e de mais de 52% no PVC, além da demora para entrega, o que inibe novos lançamentos.”
Apesar disso, no longo prazo, Ieda assegurou que as perspectivas são otimistas. “O deficit de mais de 5 milhões de moradias, a expectativa de concessões e Parcerias Público Privadas (PPPs), além do novo marco do saneamento, são razões para manter o otimismo”, finalizou.