Para voltar a crescer de forma sustentável, o Brasil precisa avançar com medidas emergenciais de combate à crise da covid-19, mas também com a agenda estrutural que pode aumentar a produtividade do país. Esta foi a mensagem da Confederação Nacional da Indústria (CNI) em painel do seminário on-line Correio Talks: "Desafios para o Brasil pós-pandemia", realizado, nesta terça-feira (23/3), pelo Correio em parceria com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae).
"Na crise do ano passado, a gente primeiro resolveu adotar ações emergenciais, com bastante sucesso nas ações adotadas pelo governo e pelo Congresso, para depois retomar a agenda da produtividade. Agora, não tem mais tempo. A gente vai ter que caminhar com as duas agendas ao mesmo tempo", alertou o economista-chefe da CNI, Renato da Fonseca. "O Congresso vai precisar continuar trabalhando, em paralelo, ações de competitividade e ações emergenciais. Se não, o Brasil vai conseguir se recuperar dessa crise, mas não vai conseguir estabelecer bases para um crescimento sustentado", acrescentou.
No painel "As Perspectiva dos Principais Setores da Economia" do Correio Talks, Fonseca explicou que o Brasil pode se recuperar da crise causada pela crise da covid-19 ainda neste ano, caso avance no combate à pandemia nas próximas semanas. Porém, corre o risco de voltar ao ritmo lento de crescimento que registrava até 2019, caso não avance com medidas estruturais, como as reformas econômicas que prometem reduzir o custo Brasil, aumentar a produtividade e melhorar o ambiente de negócios do país.
Segundo a CNI, o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil cresceu a uma taxa média anual de 0,3% nos últimos 10 anos. Já a indústria caiu cerca de 1,6% ao ano nesse período, por conta dos problemas de competitividade e produtividade do país. Com isso, a indústria brasileira despencou da 10ª para a 16ª posição do ranking mundial do setor entre 2014 e 2019. Renato da Fonseca foi, então, enfático: "Voltar onde estava antes da pandemia não é suficiente".
Custo Brasil
Para mudar esse quadro de baixo crescimento, o economista-chefe da CNI pediu que o Brasil avance em medidas que podem reduzir o custo Brasil, melhorar o ambiente de negócios, simplificar o sistema tributário, incentivar a inovação industrial e o comércio exterior do país. Ele lembrou, ainda, que avançar nessa agenda é importante para todos os brasileiros: "Uma economia emergente com alto índice de pobreza, que precisa se aproximar dos países desenvolvidos, precisa crescer 3% ao ano ou mais por um período consistente".
A CNI acredita que a economia brasileira vai crescer 3% neste ano. A projeção é mais tímida que os 4% calculados no fim de 2020, pois considera o impacto da segunda onda da pandemia de covid-19 na atividade econômica. No Correio Talks, Renato da Fonseca explicou que, como o agravamento da pandemia está exigindo o fechamento de diversas atividades econômicas país afora, a retomada só deve ganhar força a partir de maio, quando a pandemia estiver mais controlada.