Embora mais instruídas que os homens, as mulheres ainda têm dificuldades de acessar cargos de chefia e gerência no mercado de trabalho. Apenas 37,4% dos postos de comando existentes em 2019 eram ocupados por elas, segundo os dados do levantamento Estatísticas de Gênero: indicadores sociais das mulheres no Brasil, divulgado ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
A desigualdade era ainda mais elevada entre os 20% dos trabalhadores com os maiores salários. Nessa faixa de renda, elas eram apenas 22,3% dos ocupados, enquanto eles respondiam pelos 77,3% restantes. Isso demonstra, segundo o IBGE, que as mulheres estão ainda mais sub-representadas em cargos gerenciais mais bem remunerados e com potencialmente mais responsabilidades –– em 2019, receberam 77,7% do rendimento dos homens.
De acordo com a pesquisa, as mulheres inseridas profissionalmente no grupo de Diretores e Gerentes receberam 61,9% do rendimento dos homens. Já no setor Profissionais das Ciências e Intelectuais, elas ficaram com 63,6% do que foi recebido pelos colegas do outro sexo.
“As mulheres são mais instruídas que os homens. Então, a menor inserção no mercado de trabalho não se deve à instrução, porque é justamente o contrário”, disse Bruno Mandelli Perez, pesquisador do IBGE.
Nível superior
Entre os cidadãos que completam o nível superior de escolaridade, elas são maioria, com 19,4%, enquanto eles são 15,1%. Entre a população mais jovem, com idade de 25 a 34 anos, 25,1% das mulheres possuíam nível superior completo, contra 18,3% dos homens.
Entre a população com 25 anos ou mais de idade, 40,4% dos homens não tinham instrução ou não concluíram o ensino fundamental. Essa proporção foi menor entre elas, 37,1%.
A única faixa etária em que havia mais homens com ensino superior do que mulheres é a mais avançada, de 65 anos ou mais. Mas isso é reflexo, de acordo com a pesquisa, da dificuldade da inserção do acesso feminino a instituições de curso superior décadas atrás.
Há também barreiras em determinadas áreas do conhecimento, especialmente no acesso às ciências exatas e de produção. As mulheres correspondiam a apenas 13,3% das matrículas nos cursos presenciais de graduação na área de Computação e Tecnologias da Informação e Comunicação e a 21,6% na área de Engenharia e profissões correlatas. Por outro lado, na área de bem-estar, que inclui cursos ligados ao cuidado, como Serviço social, a participação feminina nas matrículas foi de 88,3% em 2019.
Embora mais escolarizadas, as mulheres ainda são minoria entre os professores de nível superior de ensino, apenas 46,8% deles. (Colaboraram Carinne Souza e Natália Bosco, estagiárias sob a supervisão de Fabio Grecchi)
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Impacto da maternidade
A presença de crianças nos lares brasileiros reduz significativamente a participação da mulher no mercado de trabalho, segundo o levantamento Estatísticas de Gênero: indicadores sociais das mulheres no Brasil, elaborado pelo IBGE. A situação é um indicativo da necessidade de políticas públicas voltadas para a ampliação do número de vagas em creches no país.
Entre as mulheres de 25 a 49 anos de idade com crianças com até três anos de idade vivendo na mesma casa, apenas 54,6% estavam ocupadas em 2019. Entre as que não viviam com crianças pequenas, 67,2% delas trabalhavam. Ainda segundo a pesquisa, o nível de ocupação delas em lares sem crianças é de 67,2% contra 83,4% no caso dos homens.
“Existe uma relação entre uma menor participação das mulheres no mercado de trabalho e uma maior participação delas no trabalho menos produtivo, os afazeres domésticos e cuidados de pessoas. Isso está relacionado a políticas públicas, políticas de expansão de creches, para que essas crianças possam ir para a creche”, destacou André Geraldo de Moraes Simões, pesquisador do IBGE.
A situação é mais grave entre as mulheres negras: apenas 49,7% das pretas ou pardas com crianças de até três anos de idade em casa estavam trabalhando, enquanto essa proporção subia a 62,6% entre as brancas. Se consideradas as sem crianças pequenas em casa, 63,0% nas negras trabalhavam, enquanto essa fatia subia a 72,8% entre as brancas
O estudo mostra ainda que as mulheres que necessitam conciliar trabalho remunerado com os afazeres domésticos e cuidados costumam aceitar ocupações com carga horária reduzida. Em 2019, 29,6% delas estavam ocupadas em tempo parcial (até 30 horas semanais de trabalho), quase o dobro do verificado para os homens (15,6%). As regiões Norte e Nordeste apresentaram as maiores proporções de mulheres ocupadas em jornadas parciais: 39,2% e 37,5%, respectivamente. (Leia mais na página 40)