A pandemia de covid-19 levou a economia brasileira à pior recessão dos últimos 30 anos. Dados divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) explicam que o Produto Interno Bruto (PIB) caiu 4,1% em 2020. É um tombo que, segundo especialistas, não será revertido tão cedo, já que o recrudescimento da pandemia e o fim dos auxílios emergenciais têm travado o crescimento econômico neste início de ano.
O resultado do PIB de 2020 é o terceiro pior da história. Só se equipara ao das recessões de 1981 e 1990, quando o Brasil encarou a crise da dívida externa e o confisco da poupança, respectivamente. Afinal, a pandemia de covid-19 levou quase toda a economia brasileira para o vermelho.
Segundo o IBGE, apenas a agropecuária cresceu no ano passado. A alta foi de 2%, puxada pela safra recorde de soja e pelo aumento das exportações para a China. Porém, não fez muito efeito no resultado final do PIB, pois os serviços e a indústria, que, juntos, representam 95% da economia brasileira, desabaram 4,5% e 3,5%, respectivamente. Isso porque, diante da covid-19, da alta do desemprego e do avanço da inflação, o consumo das famílias despencou 5,5%, o consumo do governo registrou uma queda recorde de 4,7% e os investimentos, medidos pela Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), recuaram 0,8%.
“O resultado é efeito da pandemia de covid-19, quando diversas atividades econômicas foram parcial ou totalmente paralisadas para controle da disseminação do vírus. Mesmo quando começou a flexibilização do distanciamento social, muitas pessoas permaneceram receosas de consumir, principalmente os serviços que podem provocar aglomeração”, explicou a coordenadora de Contas Nacionais do IBGE, Rebeca Palis.
Melhor que o esperado
O resultado do PIB, contudo, poderia ter sido ainda pior. É que a concessão de estímulos econômicos, sobretudo o auxílio emergencial, ajudou a amortecer os efeitos da crise sanitária na economia e, assim, a reduzir o tamanho do tombo. Prova disso é que o IBGE constatou um recuo de 2,1% da economia brasileira no primeiro trimestre do ano passado, quando a covid-19 começava a assustar o mercado; um tombo recorde de 9,2% no segundo trimestre, quando foram anunciadas as primeiras medidas de distanciamento social no país e alguns analistas passaram a projetar quedas de quase 10% do PIB do Brasil; mas também observou uma recuperação inédita de 7,7% no terceiro trimestre, quando o auxílio emergencial ajudou a elevar o consumo das famílias; e uma alta de 3,2% do PIB no quarto trimestre, que veio acima do esperado pelo mercado.
O governo comemorou. “O que eu posso falar para você era que se esperava que a gente fosse cair 10%, parece que caímos 4%. É um dos países que menos caíram no mundo todo. Então, tem esse dado positivo. O que fez a economia movimentar, foi, em parte, o auxílio emergencial”, destacou o presidente Jair Bolsonaro. “Esses resultados do PIB corroboram a recuperação das expectativas de melhora da atividade econômica ao longo do segundo semestre de 2020 e demonstram o acerto das medidas adotadas de enfrentamento à covid-19 e a pronta reação da economia brasileira”, acrescentou, em nota, a Secretaria de Política Econômica (SPE) do Ministério da Economia, que falou de uma “expressiva recuperação” da economia brasileira no segundo semestre de 2020.
2021 incerto
Ainda assim, a comemoração foi comedida no Ministério da Economia, segundo o secretário especial de Fazenda, Waldery Rodrigues. É que o resultado de -4,1% do PIB já não representa mais a realidade da economia, que vem desacelerando por conta do fim dos auxílios emergenciais e do recrudescimento da pandemia, que tem levado diversas cidades a fecharem suas atividades econômicas novamente. “O grau de incerteza aumentou agora, mais recentemente”, admitiu Waldery. “O primeiro trimestre será desafiador”, acrescentou a SPE.
Para tentar blindar a economia, contudo, o ministério tem avaliado a retomada das medidas que se mostraram efetivas em 2020. Além do auxílio emergencial, a pasta avalia poder reeditar o programa que permitiu acordos de redução salarial e suspensão da jornada de trabalho, adotar novos diferimentos de impostos e ampliar a carência de empréstimos a micro e pequenas empresas em 2020. Por isso, ainda fala em uma recuperação do V da economia brasileira e aposta em uma alta de 3,2% do PIB em 2021.
O mercado, no entanto, acredita que o governo está sendo otimista. Analistas calculam que o PIB do Brasil vai cair até 1% neste primeiro trimestre e também pode registrar um resultado negativo no segundo, o que levaria o país a mais um quadro de recessão técnica.
“O agravamento da pandemia em um momento sem recursos fiscais e monetários suficientes para amenizar a crise tende a ter impacto na atividade no primeiro semestre”, explicou o economista-chefe da MB Associados, Sergio Vale.
Notícias pelo celular
Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.
Dê a sua opinião
O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.
Brasil sai da lista dos 10 maiores
O Brasil deixou o grupo das 10 maiores economias do mundo em 2020. Com o tombo de 4,15% do Produto Interno Bruto (PIB) no ano passado e a alta do dólar, a economia brasileira caiu da nona para a 12ª colocação do ranking das principais economias do globo, segundo levantamento da Austin Rating. O estudo explica que os R$ 7,4 trilhões do PIB nacional equivalem a US$ 1,42 trilhão, segundo a cotação média do dólar em 2020, que foi de R$ 5,24. É 21% a menos do que em 2019, quando o PIB somou US$ 1,8 trilhão. Por isso, o Brasil foi ultrapassado pelo Canadá, pela Coreia do Sul e pela Rússia no ranking das principais economias mundiais.
“Quando convertemos o PIB do Brasil para o dólar, há o efeito da variação cambial. E a moeda brasileira teve uma perda de 32,9% em 2020. Isso faz com que o PIB tenha uma diminuição muito forte em dólar”, comentou o economista-chefe da Austin Rating, Alex Agostini, lembrando que o dólar saiu de R$ 4,26 para quase R$ 6, no ano passado.
Além de perder posição, o Brasil passou a representar apenas 1,6% da economia global, ante os 2,1% registrados em 2019. Segundo a agência de risco, o Brasil pode passar a ser a 15ª economia mundial neste ano, representando apenas 1,5% do PIB global.