Banco Central

Campos Neto: conta fiscal da pandemia será alta para o Brasil

Presidente do BC ressalta que o PIB brasileiro deve cair menos do que o de outros países, porém o efeito é rombo fiscal maior

Simone Kafruni
postado em 02/03/2021 21:30
 (crédito: Marcello Casal Jr/Agência Brasil - 7/4/20)
(crédito: Marcello Casal Jr/Agência Brasil - 7/4/20)

O presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, disse, nesta terça-feira (02/03), que as medidas de combate à pandemia do governo permitiram que o país tivesse uma queda menor do Produto Interno Bruto (PIB) em 2020 do que outros países, mas ressaltou que “sobra uma conta grande para pagar, que é o fiscal”. Campos Neto explicou que o real sofreu mais do que as moedas dos pares, “num momento de fragilidades externas”. “Mas não é justificado por fundamentos. Temos reservas e podemos continuar atuando para preservar as condições de liquidez”, garantiu.

Na live Cenários Brasil 2021, promovida pela Arko Advice e pela Empiricus, o presidente da autoridade monetária disse que a confiança dos serviços, da indústria e da construção recuou em fevereiro. “O comércio melhorou, mas não sentiu ainda o novo lockdown. A recuperação é desigual. Se o lockdown for maior do que o esperado, pode gerar um crescimento do primeiro semestre pior do que as expectativas”, assinalou.

Segundo ele, o Boletim Focus calcula crescimento de 3,5% em 2021. “Mas temos o efeito carregamento de 3%, então não é aceleração, mas nos coloca numa situação confortável. Com o avanço da vacinação no segundo semestre e a recuperação dos setores mais prejudicados, o crescimento será maior”, avaliou.

Campos Neto fez uma análise do cenário econômico global. “A inflação maior tem repercussão nas taxas de juros. O aumento de preços de commodities acelerou bastante a inflação. As moedas dos países emergentes e dos países produtores de commodities não apreciaram como usual”, disse. Vários fatores explicam isso, conforme o presidente do BC: o fiscal pior e a dúvida se o ambiente de liquidez mundial está no fim. “Não sabemos, mas o mercado está reprecificando e isso tem efeito grande no mundo emergente”, explicou.

O mercado de trabalho passa por uma melhora gradual, com aumento da população ocupada, comentou Campos Neto. “O emprego formal está com uma recuperação robusta”, disse. O crédito também aumentou. “O BC fez o maior conjunto de medidas, de 17,5% do PIB em liquidez e de 20% do PIB em capital, isso manteve o ritmo de expansão”, justificou. Em janeiro, na comparação de 12 meses, o crédito aumentou 15,8%, sendo 23,1% para pessoa jurídica e 10,3% para pessoa física, segundo ele. “Desacelerou agora, por conta do lockdown.”

Inflação

A inflação acumulada de 4,56% em 2020, de acordo com o presidente do BC, é resultado, em 2,5 pontos percentuais, da alta dos alimentos. “A inflação de serviços do Brasil está no mesmo nível do mundo emergente, a industrial sobe um pouco, mas nos destacamos nos alimentos. O país continuou com alta acentuada”, comparou. Para ele, parte é depreciação cambial, parte alta de commodities. “Também houve recuperação rápida da demanda doméstica, por conta dos programas do governo, em particular o auxílio emergencial.”

Para garantir que o cenário inflacionário seja temporário, Campos Neto disse que é preciso manter a credibilidade das políticas fiscal e monetária. “Com a piora da pandemia, a incerteza fiscal passa a preocupar mais, o investimento produtivo se retrai e a resposta institucional é necessária”, defendeu. “O desafio é grande, precisamos de resposta à altura. O BC vai trabalhar para entregar as metas de inflação.”

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