O presidente do Banco do Brasil (BB), André Brandão, colocou, ontem, o cargo à disposição de Jair Bolsonaro. A interlocutores, demonstrou estar incomodado com o clima político de Brasília e, sobretudo, com os rumores de que poderia ser o próximo alvo do chefe do Executivo. Ele tomou a decisão depois que o presidente anunciou a troca no comando da Petrobras –– tirou Roberto Castello Branco e colocou o general Joaquim Silva e Luna no lugar. A manutenção do principal executivo no BB era uma incógnita desde o anúncio do plano de reestruturação da instituição, que irritou o Palácio do Planalto e fez Bolsonaro pedir sua demissão no início do ano.
A interferência na Petrobras renovou os rumores de que o banco seria o próximo foco de interferência. A avaliação de Brandão é a de que, se o presidente aceitou enfrentar o risco político e econômico de demitir Castelo Branco, não hesitaria em retirá-lo do comando do BB. Com uma carreira consolidada no mercado financeiro, Brandão julgou que seria melhor se antecipar em vez de ser removido para evitar nova onda de turbulência no Banco do Brasil.
Ele também não quer ficar sendo fritado pelo Planalto, pois já demonstrou insatisfação com as amarras políticas que rondam o BB e impedem o andamento de medidas de mercado que julga corretas. Por isso, comunicou a decisão de sair ao ministro da Economia, Paulo Guedes.
Apesar de tentar fazer da saída uma situação natural, Brandão mexeu com os mercados, ontem. As ações do banco caíram mais de 4% nos últimos minutos do pregão por causa da decisão de deixar o cargo. No BB, o clima também é de estresse, pois os funcionários vinham aprovando a gestão técnica do presidente. Mas nem o BB, nem o governo comentaram o assunto.
Insatisfação
O incômodo de Brandão foi percebido também quando deixou de ir a um jantar da Federação Brasileira de Bancos (Febraban) — que tinha, entre os convidados, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL). Mas fontes na equipe econômica afirmam que pediram que ele fique no cargo até que um substituto seja encontrado, para evitar novas turbulências no mercado, como ocorreu com a demissão de Roberto Castello Branco da Petrobras.
Um dos integrantes do governo afirmou ao Correio que Brandão avalia não precisar ficar no cargo sob o risco de intervenções do governo. Como tem prestígio no mercado financeiro, na visão de interlocutores a saída do executivo destaca o caráter técnico do trabalho desenvolvido à frente da instituição financeira.
Entre os nomes cotados para substituí-lo estão o do presidente do Banco de Brasília (BRB), Paulo Henrique Costa; o do presidente do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Gustavo Montezano; e o do secretário-executivo do Ministério da Cidadania, Antônio Barreto.
Em comunicado ao mercado, o BB afirmou que o presidente não pediu demissão e que “fatos relevantes” serão comunicados posteriormente, se necessário.
Desde janeiro, o banco fechou 361 agências, além de colocar em prática um programa de demissão voluntária. As medidas desagradaram Bolsonaro, que tinha decidido pela demissão de Brandão, mas foi persuadido pela equipe econômica a desistir. No entanto, com a proximidade do ano eleitoral, Bolsonaro avalia que deve fazer mudanças de cunho considerado populista para tentar agradar aliados políticos.
Impacto
Mesmo antes de ser anunciada oficialmente, a decisão de Brandão mexeu com o mercado financeiro. As ações fecharam o dia com uma queda de 4,92%, negociadas a R$ 28,05. Quando o presidente anunciou a demissão de Castello Branco da Petrobras, os papéis da companhia despencaram e a empresa chegou a perder R$ 73 bilhões em valor de mercado em apenas 24 horas. Posteriormente, houve recuperação, embora o prejuízo ainda não tenha sido recuperado.
A troca na Petrobras causou mal-estar, também, por ter sido anunciada em rede social por Bolsonaro, o que contraria as regras da boa gestão e da não ingerência na gestão de empresas públicas. Isso porque o mercado teria de ser avisado antes, por meio de fato relevante, como preveem as normas definidas pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM).