Apesar de já anunciada pelo presidente Jair Bolsonaro, a troca no comando da Petrobras ainda precisa ser referendada pelo Conselho de Administração da estatal, que se reúne hoje para tratar do assunto. Alguns conselheiros dão sinais de que, apesar de ser difícil barrar a nomeação de Joaquim Silva e Luna, o colegiado deve controlar de perto as decisões do general para evitar novas perdas bilionárias na petroleira.
A destituição de Roberto Castello Branco da presidência da petroleira causou mal-estar em boa parte dos conselheiros. Porém, deve acabar sendo aprovada, pois sete dos 11 conselheiros da estatal foram indicados pelo governo federal. O presidente do colegiado, por exemplo, é o ex-comandante da Marinha, Eduardo Leal Ferreira. Ainda pesa a favor de Silva e Luna o fato de que a União, como acionista majoritária, pode convocar uma assembleia de acionistas para votar a destituição de Castello Branco e a nomeação do general caso a indicação não seja acolhida pelo conselho.
Apesar disso, o clima na reunião não deve ser tranquilo. A representante dos trabalhadores, Rosangela Buzanelli, por exemplo, classificou a decisão de Bolsonaro como “um desrespeitoso ato presidencial, típico de alguém sem nenhum preparo para o cargo que ocupa”.
Representante dos acionistas minoritários, o conselheiro Macedo Mesquita também não escondeu a irritação. Em entrevista à GloboNews, ele comparou a decisão de Bolsonaro à postura do PT, que é criticada pelo atual presidente da República. Mesquita ainda disse que os membros do conselho vão avaliar o currículo de Silva e Luna e devem ficar no posto para se manter em vigilantes em relação à empresa, embora “o mais fácil seria pedir demissão em protesto”.
Relator da Lei de Responsabilidade das Estatais, o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) enviou carta aos conselheiros, na qual lembrou que a lei busca a aplicação das melhores práticas internacionais na gestão das empresas brasileiras e sugeriu que a nomeação do novo presidente não parece caminhar nesse sentido. Para Tasso, as razões para a troca “não parecem visar os interesses da empresa e, sim, a subordinação desses àqueles do acionista controlador ou, antes, à objetivos de políticas públicas sem a correspondente compensação”, e, “tampouco, parecem considerar as exigências legais para o acesso ao cargo de membro, na condição de presidente, da diretoria”.
Com tantos questionamentos, o caso foi parar até na Justiça, por meio de uma ação popular. Ontem à noite a Justiça Federal de Minas Gerais determinou que o governo federal explique, em 72 horas, a troca no comando da Petrobras.