Jornal Correio Braziliense

Recessão técnica

A perspectiva de crescimento da economia está sendo revista para baixo, mesmo diante das negociações sobre a volta do auxílio emergencial, porque o início de ano tem sido marcado por uma redução brusca da atividade econômica. Especialistas trabalham, inclusive, com um PIB negativo no primeiro trimestre e algumas casas também projetam um PIB negativo no segundo semestre, o que levaria o país a uma recessão técnica.

As projeções para o PIB deste primeiro trimestre vão desde uma queda de -0,1% até uma contração de 0,8%. Afinal, milhões de brasileiros ainda estão sem auxílio e o recrudescimento da pandemia de covid-19 tem colocado novas restrições ao funcionamento das atividades econômicas. O setor de comércio e serviços, que responde por cerca de 70% da economia brasileira, por exemplo, já sofre com uma retração das vendas desde o fim do ano passado. Em dezembro, o varejo despencou 6,1% e os serviços, -0,2%, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Analistas acreditam que os resultados negativos vão continuar nos primeiros meses do ano. “Há uma piora nos serviços e no comércio, sobretudo nas categorias que são mais sensíveis ao distanciamento social, por conta do recrudescimento da pandemia e da perda de renda. O auxílio ajuda, mas não é suficiente para compensar essas perdas, já que virá em um montante inferior ao do ano passado”, analisou a pesquisadora do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV), Luana Miranda.

O Ibre/FGV calcula, portanto, que o PIB do Brasil vai cair 0,4% no primeiro trimestre e 0,8% no segundo trimestre deste ano. A projeção aponta para uma recessão técnica, que é caracterizada por dois trimestres consecutivos de queda do PIB. É uma perspectiva que também já está no cenário de instituições como a MB Associados e o BNP Paribas: a consultoria projeta um PIB de -0,8% no primeiro trimestre e de -0,3% no segundo.

Recuperação
Embora negativa no curto prazo, “deve haver uma recuperação no segundo semestre, com o avanço da vacinação”, explicou o economista-chefe da MB Associados, Sergio Vale. Ainda assim, ele projeta um PIB de apenas 2,3% no ano. É uma projeção mais pessimista que a do restante do mercado, que hoje projeta um crescimento de 3,4% em 2021.

“No segundo semestre, devemos ter um crescimento médio de 2,4% por trimestre. É um crescimento importante, porque leva em conta a vacinação, que vai permitir a retomada dos serviços, com o fim das restrições à mobilidade”, explicou Luana Miranda. O Ibre/FGV, por sua vez, está um pouco mais otimista e projeta um PIB de 3,6% em 2021. “Cerca de 3%, no entanto, é carrego estatístico”, explicou a pesquisadora. (MB)