Em meio à pressão dos caminhoneiros e à desconfiança do mercado financeiro sobre interferência política nas decisões da Petrobras, a estatal anunciou ontem mais reajustes nos combustíveis. A partir de hoje, o preço médio de venda da gasolina nas refinarias da petroleira será de R$ 2,25, aumento médio de R$ 0,17 por litro, ou 8,17%. O valor do diesel passará para R$ 2,24, elevação de R$ 0,13 por litro e alta de 6,16%. Já o gás de cozinha vai custar, para as distribuidoras, R$ 2,91 por quilo, (equivalente a R$ 37,79 por botijão de 13kg), salto de R$ 0,14 por kg, um aumento de 5%. Os preços tendem a ser repassados para o consumidor. A decisão terá impacto brutal na inflação, estimam especialistas.
Segundo a estatal, os preços acompanham a cotação dos produtos no mercado internacional e a taxa de câmbio. No entanto, a Associação Brasileira das Importadoras de Combustíveis (Abicom), alega que a estatal mantém defasagem proposital para tirar competitividade da importação dos produtos.
O economista-chefe da Ativa Investimentos, Étore Sanchez, estimou que a gasolina pode subir mais 5%, justamente por conta da defasagem frente ao mercado internacional. “Sobre o impacto no IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), tal magnitude de reajuste na refinaria afetaria as bombas apenas no terceiro decêndio de fevereiro, com grande parte do efeito na inflação de março”, acrescentou.
Para o economista-chefe da Necton, André Perfeito, só a alta anunciada ontem para a gasolina pode ter impacto de 0,40 ponto percentual no IPCA de fevereiro. Nos cálculos de Renato Preyer Veloni, professor de Ciências Econômicas do Ibmec, em três a seis meses, os reajustes do diesel, da gasolina e do gás de cozinha, poderão ter impacto de 1,5 ponto na inflação.
Ontem pela manhã, em conversa com apoiadores, o presidente Jair Bolsonaro reconheceu que o novo reajuste dos combustíveis iria “gerar chiadeira, com razão”. Mais tarde, reuniu-se com o ministro da Economia, Paulo Guedes, para discutir o problema e depois, em solenidade no Palácio do Planalto, voltou a comentar o assunto.
“Jamais tabelaremos seja o que for. Jamais praticaremos qualquer intervenção. O ideal é o dólar baixar. Mas baixa como? Com o parlamento colaborando na votação de projetos que possam mostrar que temos responsabilidade. Com essa responsabilidade, o dólar baixa quase automaticamente”, apontou.
Mudanças
Na semana passada, Bolsonaro reuniu-se com vários ministros e o presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco, e anunciou que o governo estuda um projeto de lei para diminuir o peso do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) nos preços. Ontem, o ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, disse que o projeto pode ser apresentado ainda nesta semana.
Na coletiva com Bolsonaro, Castello Branco assegurou que não há interferência do governo nos preços da Petrobras. Em nota, no entanto, a estatal admitiu uma mudança. “No primeiro semestre de 2020, dada a alta significativa da volatilidade de preços de combustíveis, a Petrobras decidiu estender de trimestral para anual o período limite de apuração da aplicação da política de preços”, informou.
Segundo a estatal, a mudança não rompe o compromisso de alinhamento ao mercado internacional, embora em determinados trimestres os preços possam, eventualmente, ficar abaixo da paridade. (Colaborou Ingrid Soares)