Conjuntura

"Não há exagero no preço dos combustíveis", crava presidente demitido da Petrobras

Demitido da presidência da Petrobras, Roberto Castello Branco rebate críticas do presidente da República e defende paridade do diesel e da gasolina com as cotações internacionais. Bolsonaro afirma que dirigentes de estatais têm de ter "visão social"

Marina Barbosa
Augusto Fernandes
postado em 26/02/2021 06:00
 (crédito: Credito Reprodução/Petrobras)
(crédito: Credito Reprodução/Petrobras)

Na primeira aparição pública após ser demitido pelo presidente Jair Bolsonaro, o presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco, garantiu que não há exagero nos preços dos combustíveis no Brasil. Ele explicou que os preços refletem o mercado internacional e afirmou que mudanças nessa política podem causar prejuízos à petroleira, que surpreendeu o mercado com um lucro recorde de R$ 59,89 bilhões no último trimestre de 2020.

“O preço não é caro, nem barato. O preço é preço de mercado. Se o Brasil quiser ser uma economia de mercado, tem que ter preço de mercado. Preços abaixo de mercado geram muitas consequências, algumas previsíveis, outras imprevisíveis, mas todas negativas”, disse Castello Branco, em transmissão pela internet.

Ao apresentar o resultado financeiro da empresa em 2020, que terminou o ano com lucro de R$ 7,1 bilhões, Castello Branco preferiu não comentar diretamente a nomeação do general Joaquim Silva e Luna para o comando da estatal, nem as críticas que sofreu de Bolsonaro nos últimos dias. Porém, numa espécie de recado, conduziu a apresentação de resultados vestindo uma camiseta com os dizeres “mind the gap” — alerta usado no metrô de Londres que significa “cuidado com o vão”.

“Nós optamos por nos comparar com o que há de melhor, e ter o compromisso de fechar o 'gap', a diferença de performance que nos separava das melhores companhias de petróleo do mundo. Nosso time enfrentou esse desafio. E, pelos resultados apresentados em 2020, conseguimos progredir muito”, explicou Castello Branco.

O executivo acrescentou que “não há como se desviar” dos preços internacionais sem temer experiências “desastrosas”, já que o petróleo é cotado em dólar e a Petrobras tem dívidas em dólar. “Para mim é surpreendente, em pleno século 21, ainda dedicarmos tanta atenção a isso”, alfinetou o executivo.

“Não tomamos decisão por achismos. Ninguém fica sentado em casa aumentando preços”, disparou o presidente da estatal, que também foi criticado por Bolsonaro por ter adotado o home office durante a pandemia de covid-19.

Rebuliço

Bolsonaro, que mostrou irritação com os aumentos dos combustíveis diversas vezes, voltou à carga ontem.

“Não é fácil buscar fazer a coisa certa sempre. É mais fácil se acomodar, tapar os olhos e deixar as coisas acontecerem. Nós não podemos nos curvar a isso. Uma estatal, seja ela qual for, tem que ter sua visão de social. Não podemos admitir numa estatal um presidente que não tenha essa visão”, disse, em visita a Foz do Iguaçu (PR). Para o presidente, a queda das ações da Petrobras após ele ter anunciado a troca de comando na empresa, não passou de um “exagero” um “rebuliço” do mercado.

Ao lado do general Joaquim Silva e Luna, indicado para substituir Castello Branco na Petrobras, Bolsonaro disse ainda que o atual diretor-geral brasileiro da Itaipu Binacional será capaz de mudar a dinâmica da petroleira. “O convite que fizemos ao Silva e Luna para presidir a Petrobras visa dar uma nova dinâmica àquela empresa. Podem ter certeza que todos aqueles que dependem do produto da Petrobras vão se surpreender positivamente com seu trabalho quando ele lá assumir”, afirmou.

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