Não durou muito tempo o bom humor dos mercados, registrado depois de a Petrobras reportar um lucro recorde de R$ 58,9 bilhões. Por isso, o Ibovespa terminou esta quinta-feira (25/02) com queda de 2,95%, aos 112.256 pontos, e o dólar subiu 1,72%, a R$ 5,51, mesmo depois de o Banco Central (BC) vender US$ 1,335 bilhão em reservas internacionais para tentar conter a escalada da moeda.
Depois de abrir em alta, o mercado virou na tarde desta quinta-feira por conta do risco político e das dificuldades fiscais que rondam o país. E essa queda se acentuou no fim do dia por conta do cenário externo. Por isso, o principal índice da Bolsa de Valores de São Paulo voltou para a casa dos 102 mil pontos, revertendo os ganhos dos últimos dois dias, e o dólar voltou a ficar acima dos R$ 5,50.
O BC interviu no mercado de câmbio às 13h20, quando o dólar já havia saído dos R$ 5,43 para R$ 5,50. A autoridade monetária ofertou US$ 1 bilhão e vendeu US$ 920 milhões, derrubando a moeda para R$ 5,47. Logo depois, no entanto, o dólar voltou para a casa dos R$ 5,50. Por isso, o BC anunciou o leilão de mais US$ 1 bilhão e vendeu US$ 615 milhões. O movimento, contudo, não foi suficiente para a moeda ceder.
Analistas explicam que uma série de fatores, domésticos e externos, interferiram negativamente no mercado hoje. Os investidores observam com preocupação, por exemplo, a tentativa do Senado de fatiar a PEC Emergencial para tentar acelerar a aprovação do auxílio emergencial, pois temem que o ajuste fiscal, prometido como uma contrapartida para a volta do benefício, acabe não saindo do papel.
"A PEC Emergencial não veio com a potência fiscal que se esperava, o que já causou uma frustração, pois hoje a proposta não tem magnitude suficiente para reverter a trajetória de crescimento da dívida pública. E, agora, estão discutindo o fatiamento da PEC. Isso significa que o auxílio virá primeiro e os gatilhos fiscais virão depois, mas esse depois às vezes nunca vem. Por isso, a percepção de risco subiu", explicou a economista-chefe da Veedha Investimentos, Camila Abdelmalack.
No campo doméstico, ainda pesaram as novas declarações do presidente Jair Bolsonaro sobre as estatais. Enquanto o mercado comemorara o lucro da Petrobras, o mandatário disse que os consumidores podem esperar surpresas positivas na gestão do general Joaquim Silva e Luna e também afirmou que toda estatal precisa ter uma visão social, o que aumentou o temor do mercado sobre mudanças na política de preços da empresa. Por isso, as ações da Petrobras, que estavam subindo cerca de 4% no início do pregão, fecharam o dia em queda de 4,96% (preferenciais) e 3,87% (ordinárias).
Não bastasse isso, o cenário externo acelerou a queda do Ibovespa e a alta do dólar. É que, diante dos estímulos que vêm sendo anunciados pelo Federal Reserve e por Joe Biden para a recuperação da economia americana da crise da covid-19, o mercado passou a precificar uma alta da inflação americana. Isso elevou as taxas de juros dos treasuries, o título do Tesouro dos Estados Unidos, pois fez o mercado acreditar em uma elevação da taxa de juros americana em período anterior ao imaginado. Logo, muitos investidores decidiram trocar o Brasil pelos Estados Unidos.
"A alta eleva o prêmio exigido pelo mercado para a tomada de risco no mercado de renda variável e, consequentemente, reduz o potencial de valorização das ações", explicou o analista da Clear Corretora, Rafael Ribeiro. "Isso gerou uma demanda grande de flight to quality (fuga para qualidade), com os investidores buscando ativos de segurança nos Estados Unidos para entenderem o que está se desenhando. Por isso, o dólar ganhou força no mundo inteiro e continuou subindo aqui mesmo com o BC atuando, enquanto a bolsa caia", acrescentou o estrategista-chefe da Laatus Investimentos, Jefferson Laatus.
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