Demitido pelo presidente Jair Bolsonaroem razão dos sucessivos aumentos nos combustíveis, o presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco, disse nesta quinta-feira (25/2) que os preços cobrados no país não são exagerados, pois estão alinhados aos preços internacionais. "Ninguém fica sentado em casa aumentando preços", retrucou, avisando que quaisquer mudanças na política de paridade de preços vai gerar consequências negativas para a Petrobras, que, no último trimestre do ano passado, surpreendeu o mercado com um lucro recorde de R$ 59,89 bilhões.
"O preço não é caro, nem barato. O preço é preço de mercado. Se o Brasil quiser ser uma economia de mercado, tem que ter preço de mercado. Preços abaixo de mercado geram muitas consequências, algumas previsíveis, outras imprevisíveis, mas todas negativas", alertou Castello Branco, citando uma das principais promessas da agenda liberal do ministro da Economia, Paulo Guedes: a economia de mercado. Com base na coleta mundial de preços realizada pelo Global Petrol Prices, Castello Branco ainda assegurou que "a média de preços do Brasil, seja em diesel, seja em gasolina, está abaixo dos preços globais".
"No caso do diesel, mais de uma centena de países têm preços acima dos preços do Brasil. Mesmo se corrigirmos pela renda per capita, o Brasil ainda fica ligeiramente abaixo da média global. Então, não existe nenhum exagero no Brasil com isso, embora alguns impostos sejam elevados. Por exemplo, comparando com os Estados Unidos, onde os impostos são baixos, o Brasil tem preços mais elevados", afirmou o executivo, citando, desta vez, dois calos do presidente Bolsonaro: o preço do diesel e os impostos que incidem sobre os combustíveis.
Ao apresentar o resultado da Petrobras em 2020 para investidores, nesta quinta-feira, Roberto Castello Branco disse ainda que a política de preços é tocada com base nos preços internacionais e nos padrões de governança da Petrobras de forma conjunta por toda a diretoria da empresa, que promete manter-se vigilante quanto à paridade de preços internacionais. "Não tomamos decisão por achismos. [...] Ninguém fica sentado em casa aumentando preços", disparou o executivo, que também foi criticado por Bolsonaro por ter adotado o home office durante a pandemia de covid-19.
Futuro
De saída da empresa no próximo dia 20, Castello Branco preferiu não opinar sobre o futuro da Petrobras. Porém, avisou que "não há como se desviar" dos preços internacionais de petróleo, sem causar prejuízos à empresa. Ele explicou que "combustíveis são commodities, assim como soja, minério de ferro, açúcar, café, trigo, cobre, são cotados em dólar, seus preços são formados pela oferta e demanda global". E lembrou que a Petrobras reduziu em US$ 36 bilhões seu endividamento nos últimos dois anos, mas ainda tem US$ 75,5 bilhões em dívida. Logo, não pode conciliar obrigações em dólares com receitas em reais.
"A experiência com inovações, de fugir da regra de paridade de preços da importação, a Petrobras já provou, foi desastrosa. A Petrobras perdeu US$ 40 bilhões", frisou, referindo-se ao prejuízo sofrido pela empresa no governo Dilma. Ele ainda disse que "não se atende aos melhores interesses da sociedade subsidiando preços de combustíveis". Por isso, aproveitou para criticar a discussão sobre a política de preços da Petrobras. "Esse assunto de paridade de preços de importação... Para mim é surpreendente, em pleno século XXI, ainda dedicarmos tanta atenção a isso", alfinetou.
Apesar disso, o mercado teme que o governo de Jair Bolsonaro faça mudanças na política de preços da Petrobras. É que, depois de anunciar a demissão de Castello Branco e a nomeação do general Joaquim Silva e Luna, Bolsonaro prometeu novas mudanças na Petrobras e disse que o general vai "dar um jeito" na estatal. Além disso, o mandatário já deixou claro a insatisfação com os sucessivos reajustes dos combustíveis, sobretudo depois que os caminhoneiros ameaçaram entrar em greve por conta disso.
Elogios a Castello Branco
O mercado, por outro lado, teceu diversos elogios à gestão de Castello Branco durante a apresentação de resultados da empresa. O executivo admitiu estar feliz por estar entregando bons resultados, junto com uma equipe "competente e unida", e até brincou com a situação. Ele disse que o lucro registrado pela Petrobras em 2020, mesmo com a crise internacional da covid-19, mostra que "elefantes" podem dançar e até voar.
O executivo também surpreendeu ao aparecer na apresentação com um traje informal: uma camiseta com os dizeres "Mind the gap". Ele explicou que a Petrobras adotou esse lema, associado ao metrô de Londres, pois trabalhou nos últimos anos para reduzir a distância com as melhores petroleiras do mundo e tornar-se uma delas. E afirmou que acredita ter feito um bom trabalho nesse sentido.
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