Desde a última ata do Comitê de Política Monetária (Copom), o Banco Central vinha dando sinais de que começaria a subir os juros em março. Com a taxa básica Selic no piso histórico de 2% ao ano, o mercado apostava em alta entre 0,25 e 0,50 ponto percentual na próxima reunião do Copom. Porém, a fragilidade da economia, que ficou clara com a retração de 6,1% nas vendas do varejo em dezembro, e a queda de 7,8% dos serviços em 2020, pode mudar os planos da autoridade monetária, que vive um dilema, uma vez que a inflação está disparando e uma forma de conter a alta dos preços é subir juros.
Segundo o economista-chefe da Ativa Investimentos, Étore Sanchez, o tombo do comércio foi maior do que o previsto. “O problema não é a inflação em si. Na minha avaliação, o BC mira 2022, ou seja, mais de 18 meses. E subir juros não vai estancar o choque inflacionário das commodities internacionais”, explicou. “O único canal é na transmissão da inflação como efeito secundário. Porque o preço do barril de petróleo não vai parar de aumentar se o BC subir juros”, exemplificou.
Por isso, o especialista calcula que a normalização da oferta de produtos, com reversão nos preços, joga a primeira elevação dos juros para o começo de 2022. “O meu modelo aponta isso. Só que a retórica que a gente ouve é que, no primeiro o avanço da inflação, a comunicação do BC é antecipar o ciclo de elevação da Selic. Isso, na minha opinião, será uma medida precipitada na reunião de março e mesmo na seguinte”, disse.
Sanchez observa que a ociosidade da economia é muito grande no país. “O hiato do produto, que é o quanto o Brasil poderia crescer e quanto de fato está crescendo, é enorme. O programa de vacinação é moroso. Grande parte do PIB (Produto Interno Bruto), que é decorrente da atividade dos serviços, só vai ser restabelecida lá para 2022, quando o consumidor tiver sido vacinado e, mais do que isso, tiver confiança de circular na rua”, estimou.
Incertezas
Apesar das projeções do especialista, o mercado estima alta nos juros de 0,25 ponto percentual em março e, nas reuniões seguintes, altas consecutivas de 0,50 ponto. Segundo o Boletim Focus, com as projeções das principais instituições financeiras, a Selic deve terminar 2021 em 3,50% ao ano e 2022, em 5%. Os dados mais fracos do varejo e dos serviços aumentaram as incertezas dos próximos passos das políticas fiscal e monetária, com a pressão maior pela volta do auxílio emergencial e um consequente receio pelo risco de elevação da inflação.
O assessor da Valor Investimentos Davi Lelis explicou que, “até a penúltima reunião do Copom, o BC vinha com a indicação de manutenção da Selic no patamar mais baixo”. “Na última, no entanto, mudou o indicativo. O mercado sentiu que as expectativas mudaram e entendeu que a Selic tende a subir nas próximas reuniões”, detalhou.
Lelis estimou que a autoridade monetária deve subir levemente os juros em março. “Deve ficar na faixa entre 0,25 ou 0,50 ponto percentual, que é o que mercado já precificou”, disse.
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