A agropecuária foi o terceiro setor que mais gerou vagas no Brasil em 2020, de acordo com um levantamento da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) com base em dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). O setor abriu 61.637 novas vagas de janeiro a dezembro do ano passado — o melhor resultado desde 2011 — e ficou atrás apenas dos setores de construção, com 112.174 vagas; e indústria geral, com 95.588.
A soja liderou as atividades que mais criaram postos com carteira assinada em 2020, com abertura de 13.396 vagas. Em seguida, está a criação de bovinos — em sua maioria, para produção de carne —, com aumento de 11.598 postos. Em terceiro lugar está o café, com mais 6.284 vagas; em quarto, a produção de aves, com 5.993. As atividades de apoio à agricultura também tiveram aumento, com mais 4.805 vagas.
Entre os dez primeiros aparecem, ainda, o cultivo de cereais (3.873); cultivo de frutas de lavoura permanente, exceto laranja e uva (3.633); cultivo de laranja (3.175); cultivo de plantas de lavoura temporária (3.030); e criação de suínos (2.444).
A única atividade que registrou redução do número de postos de trabalho formal foi a de apoio à produção florestal, com 1.292 vagas a menos. Essa categoria diz respeito a serviços de veterinária, agrônomos que prestam consultoria e empresas de assistência.
Paulo Camuri, assessor técnico do Núcleo Econômico da CNA, vê como positivo o resultado, considerando a crise econômica que afetou o mundo por causa da pandemia do novo coronavírus. Para ele, o fato de a agricultura ter sido considerada pelo governo como atividade essencial logo no início de 2020 foi importante para que o setor minimizasse os impactos da crise.
"A dinâmica que justifica essa criação de vagas está muito relacionada ao que ocorreu com as exportações em 2020, que tiveram resultado expressivo. Uma vez que a China, nosso principal parceiro comercial, entrou primeiro e saiu primeiro da pandemia, já em março, as exportações passaram a evoluir com variação positiva. No último trimestre, a economia global já tinha mais fôlego. O Brasil continuou exportando para os outros países, que retomaram suas posições mais próximas", afirma.
Ele comenta que a tendência é de que o primeiro trimestre do ano seja mais aquecido do que o período do fim de 2020. "A leitura é que o mercado formal de emprego conseguiu fechar no positivo ano passado, o que já surpreendeu muitos analistas, mas foi um saldo muito menor que os últimos anos. O resultado de dezembro foi particularmente ruim na economia, já refletindo o fim do auxílio emergencial em janeiro. Esse impacto foi menor no agro. Apesar disso, não estamos comemorando, porque a volatilidade do dólar traz complicações para o produtor rural, que tem maiores custos de produção", pontua Camuri.
Já Felipe Queiroz, economista pesquisador da Unicamp, destaca que o movimento de migração para o campo tem sido o grande responsável pela criação de empregos. "O país vem enfrentando uma desindustrialização, se tornando mais rural. Até a década de 1980 era o contrário. Depois, por causa de políticas neoliberais adotadas pelos governos a partir da década de 1990, isso começou a mudar, com fechamento de fábricas. Mas o incentivo ao agronegócio pôde ser visto já nos anos 2000, com o ciclo de valorização de commodities no mercado internacional. Isso se deu muito pelo crescimento da China, antes da crise de 2008", conta.
Ele também considera importante destacar o empenho do governo federal em agradar aos setores rurais — o que tem, na sua opinião, fortalecido a exploração de terras, gerando uma demanda por mão de obra, em um contexto de fechamento de fábricas e serviços nas cidades. "O agro foi o grande setor priorizado pelo governo federal. Isso pôde ser visto com aumento do desmatamento e grilagem de terras entre os anos de 2019 e 2020. Se você tem uma extensão tão grande para ser explorada, inegavelmente vai ter uma demanda de mão de obra", afirma Queiroz.
A geração de emprego, explica, não significa necessariamente que o setor está em desenvolvimento, apenas que tem explorado mais áreas para a produção agropecuária. "Se você só tem mais áreas a serem exploradas, você consequentemente emprega mais. E com o câmbio no patamar que estava, motivado pela busca de ativos de menor risco, tudo isso contribuiu com incentivo muito maior do agronegócio. Foi um ano de festa para o setor".
Ele destaca, ainda, que a demanda de produtos alimentos é inelástica. Mesmo com a crise, a procura por alimentos continua. "Pessoas continuam comendo. E com câmbio onde está, há um incentivo a esses setores. O único elemento que pode prejudicar o agro seria o governo não adotar um auxílio à população mais carente. A demanda interna vai diminuir", completa.
*Estagiário sob supervisão de Fernando Jordão
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