Em razão dos gastos extraordinários com a pandemia e do maior endividamento do país, o Brasil deverá ter crescimento menor em 2021, com inflação mais alta. Esse é o prognóstico feito pelo presidente do Banco Central, Roberto Campos, ao falar para os agentes de mercado durante o evento virtual MB Strategy. “Um ponto importante é o estoque da dívida, que tem que ser digerido”, destacou. Ele reafirmou, ainda, que a vacina contra a covid-19 “é a luz no fim do túnel”, porque vai reduzir o número de mortes e internações.
Há um prêmio de risco fiscal embutido na curva de juros, diante da nova situação fiscal, disse o presidente do BC. Por isso, o cronograma de reformas é fundamental para diminuir esse prêmio. “O fiscal é uma chave importante, mas tem um limite”, destacou Campos Neto. Ele lembrou que, neste início de 2021, existe uma “janela de liquidez” — resultado das políticas de distribuição de renda, principalmente o auxílio emergencial, combinadas com a volta da atividade. O mais importante, reforçou, é o país “debelar a pandemia e ter um plano com credibilidade que leve em consideração as restrições fiscais”.
Crescimento privado
Questionado sobre a demanda global por estímulos fiscais, Campos Neto ressaltou que a crise sanitária ensinou muito aos países emergentes. E o Brasil foi pego no momento em que começava a buscar um equilíbrio na qualificação da mão de obra, com o avanço da tecnologia. Com isso, trabalhadores menos qualificados tendem a ficar de fora do mercado de trabalho, principalmente os informais. Esse contexto, unindo as duas pontas, levará a um ambiente de mais desenvolvimento, com mais dívidas para os governo e para as empresas que precisarão amparar os que “ficarem de fora”.
“Enfim, nosso crescimento tem que ser privado. Precisamos de crédito privado”, disse Campos Neto. Ele também falou da “onda azul”, nos Estados Unidos, fenômeno que se caracteriza pela mudança de rumo na política econômica com a chegada o presidente Joe Biden. Ele disse que, independentemente da “onda azul”, a sociedade demanda uma retomada inclusiva e sustentável no pós-pandemia. E o pacote fiscal americano proposto por Biden, de US$ 1,9 trilhão, tem características redistributivas.