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Estrangeiros retiram US$ 8,5 bilhões de aplicações brasileiras em 2020

A retirada registrada em 2020 nos investimentos em carteira, como ações e fundos de investimento, é a maior desde 2018, segundo o Banco Central

Além de reduzir pela metade os investimentos diretos no país, os estrangeiros retiraram US$ 8,5 bilhões de aplicações financeiras brasileiras em 2020. O dado foi divulgado nesta quarta-feira (27/1) pelo Banco Central (BC), que atribui o resultado às incertezas criadas pela covid-19.

Segundo o Banco Central, o desempenho negativo dos investimentos em carteira é um reflexo da retirada de US$ 7,3 bilhões de investimentos estrangeiros do mercado de ações e da saída de US$ 1,3 bilhão dos fundos de investimento brasileiros. Já os títulos de renda fixa conseguiram escapar do baque e registraram um ingresso líquido de US$ 41 bilhões no ano.

A saída acumulada de US$ 8,5 bilhões, contudo, foi 27% maior que a registrada em 2019, quando os estrangeiros tiraram US$ 6,7 bilhões das aplicações financeiras do país. E representa a maior retirada desde 2018, quando os investimentos em carteira do Brasil perderam US$ 9,5 bilhões dos investidores estrangeiros.

Chefe do Departamento de Estatísticas do Banco Central, Fernando Rocha explicou que, embora os investidores estrangeiros tenham voltado a aplicar na Bolsa de Valores de São Paulo nos últimos meses, esse ingresso de capital ainda não foi suficiente para reverter todas as perdas acumuladas no início pandemia de covid-19. Afinal, o Brasil sofreu uma fuga de capital de US$ 35 bilhões entre fevereiro e maio, com uma saída foi de US$ 22 bilhões apenas em março, quando a pandemia de covid-19 exigiu o fechamento das atividades econômicas, elevando as incertezas dos investidores.

"Houve saídas relevantes em fevereiro, março e abril, principalmente em março. De lá para cá, sobretudo a partir de junho, temos visto ingressos consecutivos nos investimentos em carteira do mercado doméstico. Esses investimentos, no entanto, não cobriram integralmente a saída ocorrida no começo do ano", afirmou Rocha.

Os dados do BC mostram, no entanto, que a recuperação dos investimentos em portfólio foi constante entre julho e dezembro e ganhou força no fim do ano. Em dezembro, por exemplo, o BC registrou um "ingresso significativo" de US$ 6,3 bilhões no mercado financeiro brasileiro. Além disso, a parcial deste mês de janeiro também está positiva em R$ 5,6 bilhões, um "valor bem significativo" que aponta para um mês positivo dos investimentos em carteira, segundo Rocha.

Sem projeção

O chefe do Departamento de Estatísticas do BC explicou que "quando havia mais informações sobre a pandemia e a incerteza, embora elevada, estava menor, houve um retorno dos investidores estrangeiros ao mercado brasileiro". E admitiu que a perspectiva de alta dos juros, esperada para este ano, pode ter contribuído com o retorno dos investidores estrangeiros no fim do ano.

Rocha, no entanto, disse que não é possível fazer uma projeção para o desempenho dos investimentos em carteira neste ano. Ele explicou que, diferentemente do investimento direto no país, este é um investimento muito volátil, de mais curto prazo. Logo, pode variar bastante, de forma rápida. E neste ano, depende de vários fatores, como os juros e o câmbio, mas também da recuperação econômica e da evolução da pandemia de covid-19.

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