Apesar de ter sido prometida para este ano pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, a privatização da Eletrobras está em xeque. O presidente da estatal, Wilson Ferreira Junior, renunciou ao cargo dizendo que não vê espaço para o andamento do projeto durante este mandato de Jair Bolsonaro. Ele explicou que, apesar de defendido pelo Executivo, o projeto não ganhou “tração” e não desfruta de “capital político” para avançar no Congresso Nacional.
Ferreira Junior é presidente da Eletrobras desde o governo de Michel Temer. Ele vinha trabalhando em um processo de reestruturação que conseguiu reverter os prejuízos e aumentar a competitividade da estatal, deixando-a “pronta para a privatização”. Mas, ontem, admitiu que vai deixar o cargo porque não tem certeza sobre o andamento da desestatização, que, para ele, é crucial para a ampliação dos investimentos da companhia.
No Congresso desde 2018, o projeto de lei que prevê a privatização da Eletrobras chegou a ser atualizado em 2019 pelo governo Bolsonaro. Porém, ainda não avançou, pois sofre resistência de muitos parlamentares, e porque o governo precisou mudar a ordem de prioridades no ano passado por conta da pandemia de covid-19.
Na avaliação de Ferreira Junior, a privatização não vai decolar antes de 2023. É que o senador Rodrigo Pacheco (DEM-MG), favorito na disputa pela Presidência do Senado, já disse que o assunto não é prioritário. E, em 2022, os parlamentares estarão voltados às eleições, logo devem evitar “tabus” como as privatizações. “Fica muito difícil se não for uma prioridade agora”, avaliou.
O presidente da Eletrobras destacou que esta é uma avaliação pessoal e que ainda há compromisso do governo com o projeto, sobretudo dos ministros de Minas e Energia, Bento Albuquerque, e da Economia, Paulo Guedes. Não foi o suficiente, contudo, para dar confiança ao mercado.
Os papeis da Eletrobras caíram quase 11% na Bolsa de Nova York e ainda não sentiram o baque por aqui porque a Bolsa de Valores de São Paulo (B3) estava fechada ontem, em virtude do feriado de aniversário de São Paulo. “Muito provavelmente vai acontecer o mesmo, talvez não nessa magnitude, mas vai abrir com uma forte baixa, porque foi uma decepção para os investidores, que tinham muita expectativa pela privatização”, avisou o analista da Guide Investimentos, Henrique Esteter.
Cargos por apoio
O mercado ainda está de olho no sucessor de Ferreira Junior, que, agora, vai comandar a BR Distribuidora, privatizada em 2019. É que, embora o executivo tenha dito que há nomes técnicos com capacidade de sucedê-lo dentro da empresa, os analistas temem que o posto vire alvo de negociações políticas. Já há, inclusive, militares sendo cotados para o cargo.
Também se acredita que o posto possa ser negociado com o Centrão, que tem levado cargos no governo para garantir apoio ao Planalto no Congresso, e sempre esteve de olho na Eletrobras: além de garantir salários altos, a estatal é um ativo importante em muitas bases eleitorais, já que comanda a distribuição de energia elétrica e projetos como o de revitalização do Rio São Francisco.