Para tentar acabar com os ruídos sobre a possibilidade de interferência política no Banco do Brasil (BB), o Conselho de Administração da instituição emitiu um comunicado garantindo a manutenção do plano de reestruturação do banco e a permanência de André Brandão na presidência. O texto, no entanto, não foi assinado pelo executivo nem pelo secretário especial da Fazenda do Ministério da Economia, Waldery Rodrigues, ambos já ameaçados de demissão pelo presidente Jair Bolsonaro.
O plano de reestruturação do BB prevê o fechamento de 361 unidades de atendimento e o desligamento voluntário de até cinco mil funcionários ao longo deste primeiro semestre. Porém, irritou Bolsonaro. Tanto que o chefe do Executivo pediu a dispensa de Brandão ao ministro da Economia, Paulo Guedes, no início do mês. O executivo, no entanto, ficou no cargo, porque a equipe econômica mostrou a Bolsonaro que a ameaça de demissão derrubou as ações do BB e foi interpretada pelo mercado como uma interferência política.
Ainda assim, havia dúvidas sobre a continuidade do plano de reestruturação do banco, pois, diante da manutenção de Brandão, o Planalto cobrou uma revisão do projeto de fechamento de agências. O Conselho de Administração do BB fez, então, uma reunião extraordinária para tratar do assunto. E, na ocasião, descartou alterações no plano.
Na ata da reunião, o Conselho de Administração do BB nega “qualquer espécie de interferência do acionista controlador na execução das medidas de eficiência anunciadas, que seguem sendo executadas exatamente como aprovada” e diz que as notícias sobre a demissão de Brandão não passaram de “graves especulações”. A manifestação ainda explica que, em respeito à Lei das Sociedades por Ações e à Lei das Estatais, “não seria admitido a estes conselheiros anuir com qualquer prática que, porventura, viesse a ser adotada contrariamente aos melhores interesses da companhia e de seus acionistas”.
O comunicado, no entanto, não foi assinado por todos os oito conselheiros do BB, embora eles tenham participado da reunião extraordinária, realizada na semana passada. Além de Brandão e Waldery, não assina o documento Débora Fonseca, representante dos funcionários do BB no Conselho. Segundo a ata, “a abstenção dos demais conselheiros” foi registrada “com o fim de se elidir qualquer potencial conflito de interesses”.
Coube, portanto, ao presidente do Conselho, Hélio Lima Magalhães; aos conselheiros independentes indicados pelo Ministério da Economia, Fabio Augusto Cantizani Barbosa e José Guimarães Monforte; e aos membros eleitos pelos acionistas minoritários do BB, Luiz Serafim Spinola Santos e Paulo Roberto Evangelista de Lima, a responsabilidade do comunicado.
BB DTVM
O Banco do Brasil também vai retomar o processo de venda da BB DTVM, segundo a Agência Reuters. Com mais de R$ 1 trilhão em ativos sob gestão, a BB DTVM é a maior administradora de recursos do país e teve o processo de venda iniciado em 2019. No ano passado, ainda na gestão de Rubem Novaes, contudo, o BB interrompeu o processo por considerar baixas as propostas recebidas. À época, a venda também foi alvo de polêmica, pois a Associação Nacional de Funcionários do Banco do Brasil (ANABB) questionou ao Tribunal de Contas da União (TCU) se o BB poderia privatizar a gestora sem o aval do Congresso, fazendo com que a Corte solicitasse esclarecimentos ao banco. Por isso, é possível que, se confirmada, a medida gere novas críticas ao Banco do Brasil nas próximas semanas.