Infraestrutura, tecnologia e gestão são fundamentais para lidar com a administração da água, mas perdem se não houver a consciência da população de que se trata de um recurso natural limitado. Esse é o diagnóstico do pesquisador da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) e diretor da Adasa (Agência Reguladora de Águas, Energia e Saneamento do Distrito Federal), Jorge Werneck. “No Brasil, temos a maldição da abundância. Como a gente sempre teve muita água, pensamos que nunca vai faltar. Nosso território abarca cerca de 18% da água do mundo, mas ela está mal distribuída. A maior parte está na Amazônia. Temos locais, no Nordeste semiárido, por exemplo, onde praticamente não tem água. Por isso, tecnologia, adaptação e conhecimento são fundamentais”, ressaltou.
Entrevistado de ontem do CB.Agro — uma parceria do Correio Braziliense com a TV Brasília —, o pesquisador salientou que o incentivo a pesquisas é essencial, embora os resultados não sejam imediatos. “Precisamos lembrar que o que temos hoje foi o resultado de pesquisas feitas há 10, 20 anos. No entanto, as pessoas estão mais conscientes, principalmente, devido a situações de conflitos que a gente presenciou por conta da falta do recurso. Isso fez com que aumentasse o número de pessoas e produtores que se preocupam com o assunto”, comentou Werneck.
Contudo, segundo a análise do especialista, é grande a probabilidade de novos conflitos por água. “Infelizmente, é uma tendência. A população vem crescendo muito e, em ritmo acelerado, cada vez mais se reúne nos centros urbanos. Isso faz com que o serviço não consiga acompanhar a velocidade do aumento de demanda por água”, acrescentou.
Situação no DF
Na capital do país, Werneck contou que a região sofre, principalmente, devido ao alto crescimento populacional. “Vivemos em uma região alta e plana, o Planalto Central, e isso faz com que, aqui, tenhamos apenas nascentes, mas não grandes rios para abastecer a cidade. Temos um território pequeno e mais de 3 milhões de habitantes em apenas 60 anos desde a construção da cidade. Essa combinação de pouca disponibilidade de água na região e poucos rios faz com que seja necessário um planejamento maior no DF”, alertou o diretor da Adasa.
Por isso, o especialista defendeu que o uso da água deve ser equacionado para um crescimento sustentável. “Precisamos utilizar a água de maneira racional. E claro, nós da Adasa, fazemos o monitoramento do clima, das chuvas, utilizamos recursos para favorecer a infiltração da água no solo e para evitar o escoamento superficial, além do incentivo para as boas práticas agrícolas. Realizando essas ações e cuidando das áreas preservadas é possível ter alimento e água para todos: para o campo e para a cidade”, finalizou.
*Estagiário sob a supervisão de Carlos Alexandre de Souza