ECONOMIA

Estudo aponta que venda de ações provocou prejuízo bilionário ao BNDES

Especialistas ouvidos pelo Correio detalham ações do Banco

Estudo do economista Arthur Koblitz, presidente da Associação dos Funcionários do BNDES (AFBNDES), mostra que a pressa do governo em acelerar o desinvestimento da carteira da BNDESPar, o braço de participação acionária do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, acarretou prejuízo de R$ 12 bilhões aos cofres públicos. O erro estratégico, afirma o economista, foi vender ações da carteira em momento de baixo preço e durante a pandemia. O prejuízo se concentra em quatro principais desinvestimentos: Petrobras (R$ 1,3 bilhão), Vale (R$ 7,5 bilhões), Suzano (R$ 2,5 bilhões) e Marfrig (R$ 800 milhões).

“Sempre alertamos que não havia necessidade da venda, a menos que fosse para usar os recursos para combater a pandemia, o que não aconteceu. Ao contrário, diversos investidores privados comemoraram”, disse Koblitz.

Nos cálculos do economista, em agosto de 2020, o banco alienou 135 milhões de ações ao preço de R$ 60,26 por ação, num total de R$ 8,1 bilhões pela BNDESPar. “Hoje, essa carteira valeria R$ 14,1 bilhões, e a BNDESPar ainda deixou de receber R$ 325 milhões em dividendos. O prejuízo dessa única operação, portanto, foi de R$ 6 bilhões. Fazendo a mesma conta para casos públicos de desinvestimento (usando a cotação em 8 de janeiro de 2021) chegamos ao número de R$ 12,2 bilhões de prejuízo”, destacou.

O economista Gil Castello Branco, especialista em finanças públicas e secretário-geral da Associação Contas Abertas, não concorda que a venda das ações tenha sido um mau negócio. “O governo, além da participação em golden shares e blocos de controle das empresas, acabava tendo penduricalhos ao comprar ações via BNDES e Caixa”, assinalou. Para ele, o simples fato de um banco de fomento ter participação societária em uma petroleira enorme não faz sentido. “Estes recursos seriam mais efetivos em empresas menores, que não têm acesso a financiamento ou taxas de juros baixas, o que não é o caso da Petrobras.”

“O argumento de que ‘agora vale mais’ é sempre usado pelos ‘profetas’ que pretendem demonstrar maus negócios, como se fosse possível adivinhar o comportamento do mercado. Se as pessoas soubessem exatamente para onde a Bolsa vai, elas sempre ganhavam dinheiro”, argumentou.