Assessores do Palácio do Planalto confirmaram que, insatisfeito com a repercussão negativa do plano de reestruturação do Banco do Brasil (BB), o presidente Jair Bolsonaro avalia demitir o presidente da instituição, André Brandão. O executivo, no entanto, vai se segurando no cargo, pois o ministro da Economia, Paulo Guedes, tenta reverter a demissão, como ocorreu, no ano passado, quando o secretário especial da Fazenda, Waldery Rodrigues, também se viu ameaçado pelo mau humor presidencial.
A permanência de Brandão no posto, no entanto, pode custar a revisão do plano de reestruturação do banco, que, como lembram analistas de mercado, foi o primeiro grande anúncio do executivo após assumir o comando do Banco do Brasil.
Brandão, por sinal, nunca foi o nome dos sonhos de Bolsonaro para o BB. E mais: o presidente ficou muito irritado com a contratação do cantor Seu Jorge, apontado como integrante de esquerda, para fazer um show de fim de ano aos funcionários do banco.
Além de Guedes, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, trabalha para que Bolsonaro mude de ideia. A equipe econômica argumenta que o mercado financeiro vê o desligamento de Brandão como uma forte ingerência política no Banco do Brasil, com repercussões negativas no meio econômico.
Segundo analistas, a intenção de Bolsonaro pode ser comparada às ingerências realizadas pelo governo do PT na Petrobras, que foram criticadas pelo próprio presidente durante a campanha eleitoral. Além disso, contraria a política liberal defendida pelo chefe da equipe econômica, que ajudou a eleger o capitão reformado.
O mercado também considera o plano de reestruturação do Banco do Brasil como algo necessário diante do processo de crescente digitalização do mercado financeiro. Tanto que as ações do BB desabaram quase 5% na quarta-feira, e voltaram ontem ao vermelho após o Planalto confirmar a intenção de demitir Brandão. As ações da estatal chegaram a subir após o BB emitir um fato relevante dizendo que não havia recebido nenhum comunicado oficial do governo sobre o assunto, mas fecharam o pregão com uma desvalorização de 0,24%.
A indefinição sobre a permanência de Brandão no BB, no entanto, não ameniza as críticas do Planalto ao plano, que prevê o fechamento de 361 postos de atendimento, incluindo 112 agências, e um programa de demissão voluntária (PDV) de até 5 mil funcionários. A insatisfação de Bolsonaro com o projeto veio à tona na quarta-feira, quando o mandatário recebeu queixas de parlamentares sobre o projeto, que, no entanto, havia sido aprovado por Guedes e apresentado com antecedência ao Planalto, segundo fontes do BB.
Além disso, a ala política do Planalto avaliou que o momento para a apresentação do projeto foi inadequado, já que coincide com uma situação de alta no desemprego, com a saída da Ford do Brasil e com as negociações em torno da sucessão comando das duas Casas do Congresso. No BB, já se teme, inclusive, que o alto escalão do banco vire um balcão de negociações com o Centrão, pois o chefe do Executivo ficou preocupado com as ameaças de perder apoio nas eleições para a presidência da Câmara e do Senado, em fevereiro.
Irritação
Na manhã de ontem, Bolsonaro demonstrou irritação ao ser questionado sobre o assunto por um apoiador, na saída do Palácio da Alvorada. Ele não respondeu se Brandão continua no governo, interrompeu a tradicional conversa matinal com a claque e seguiu para o Palácio do Planalto, onde, segundo fontes, chegou a avaliar alguns nomes para ocupar o lugar do executivo no comando da instituição financeira
Pouco depois, no entanto, funcionários do Banco do Brasil foram avisados que Brandão não deixaria o comando do banco no momento. O Planalto explicou que Bolsonaro pediu a demissão de Brandão a Guedes, mas esclareceu que ainda não havia exoneração porque a equipe econômica tenta fazer o presidente mudar de ideia.
No BB, o clima continuou tenso ontem e, até o fechamento desta edição, não havia confirmação da saída ou da permanência de Brandão. Fontes do Palácio do Planalto e do BB ressaltaram o impasse criado entre Bolsonaro e Guedes e frisaram que, apesar de toda a confusão, o ministro da Economia ainda não foi discutir pessoalmente o assunto com o presidente da República, como fez, no ano passado, quando Waldery Rodrigues, foi ameaçado com um cartão vermelho por Bolsonaro, por declarações sobre os estudos para criar o Renda Brasil, programa que deveria substituir o Bolsa Família, mas acabou sendo descartado. Desde que voltou de férias, na segunda-feira, Guedes tem mantido uma agenda de reuniões internas no gabinete e segue sem comentar o assunto.
Presidente da Frente Parlamentar Mista em Defesa dos Bancos Públicos, o deputado federal Zé Carlos (PT-MA) disse que congressistas pretendem se mobilizar em torno do assunto. “Vamos efetuar, nos próximos dias, uma reunião entre as diversas frentes parlamentares que defendem as instituições públicas para definir as próximas ações diante do quadro atual”, afirmou.