INDÚSTRIA AUTOMOTIVA

Ford: como fica o consumidor após fechamento de fábricas no país

Especialistas explicam as consequências da decisão da multinacional e como fica o brasileiro dono de automóvel da fabricante

A Ford, fabricante de automóveis, anunciou nessa segunda-feira (11/1), o encerramento da produção de veículos no país. A decisão envolve o fechamento das fábricas de Camaçari (BA), Taubaté (SP) e Horizonte (CE). A montadora segue, porém, com suas vendas e assistência técnica, reposição de peças e garantia para os clientes no país.

A multinacional informou que os carros que serão vendidos em suas concessionárias no país serão importados de países como Argentina e Uruguai. Serão mantidos, segundo a Ford, o Centro de Desenvolvimento de produto, na Bahia, e o campo de provas e a sede administrativa, ambos em São Paulo. A fábrica de jipes da Troller, em Horizonte (CE), será fechada no último trimestre de 2021.

De acordo com a Ford, o fechamento no país faz parte de seu processo de reestruturação global. As perdas da pandemia, a crise econômica de 2013 e a recente desvalorização do real foram pontos citados pela empresa, em uma carta enviada para as concessionárias. Desde 2018, a Ford vem fechando fábricas — como na Austrália e França — e parando de fabricar alguns modelos de carros em determinados lugares, como o Fusion e o Fiesta nos EUA.

No Brasil, o processo de reestruturação começou em 2019, quando a produção na fábrica de São Bernardo do Campo (SP) foi encerrada. Na época, a empresa parou de produzir e vender caminhões no país, focando apenas no negócio de automóveis. Após o fechamento das fábricas, modelos nacionais como o Ka, EcoSport e Troller T4 terão suas vendas interrompidas assim que terminarem os estoques.

Como fica o consumidor?

Flavio Padovan, sócio-diretor da MRD (Management Resources Development) afirma que o impacto do fechamento das fábricas da Ford no país é grande. “São muitos empregados, impactos nas concessionárias. Muitas concessionários não vão mais atuar, e o impacto de fornecedores também vai ser muito grande”. Sobre a multinacional ter garantido que os clientes não ficarão desamparados, Padovan diz “não ser uma tarefa muito fácil”. “As concessionárias diminuem, o atendimento pode ficar mais difícil, assim como a disponibilidade de peças, o que afeta, diretamente, o desejo de comprar do consumidor”

Flávio acredita que a demanda que antes recaía sobre a Ford, deve passar para outras empresas do ramo. “A Ford vende hoje um volume anual de 140 mil carros por ano. Esse volume vai ser absorvido pelas outras montadoras”, afirma. O especialista atenta, porém, que, por mais que a empresa se esforce para manter as peças disponíveis e alguns concessionários funcionando “sabemos que isso não vai passar imune, o consumidor vai sofrer de alguma forma".

Por meio de nota, a concessionária Brasal Veículos assegurou que manterá todos os serviços de assistência para os veículos da Ford. “Esclarecemos que a parceria Brasal Veículos e Ford continuará, sendo que agora com um novo modelo, pautado na oferta de produtos diferenciados. Tranquilizamos nossos clientes afirmando que todos os serviços relacionados à garantia dos veículos Ford e assistência técnica permanecerão sendo realizados sem qualquer alteração”, afirmou.

Para o caçador de carros, Igor Car Hunter, o mercado de carros usados da Ford não deve cair muito. “Os carros da Ford perderam bastante força no mercado de zero km, mas no mercado de usados sempre foram boas opções. E, mesmo com o fechamento das fábricas, a Ford diz que vai se comprometer com o fornecimento de peças de reposição”, ressaltou. “ Não acho que seja um motivo tão alarmante para as pessoas quererem vender o carro ou ter algum tipo de receio ao comprar um veículo desse usado”, completou.

Igor, que está no mercado de automóveis há três anos, acredita que a procura por outras marcas de carros deve aumentar. “Já tem alguns anos que a procura por carros da Ford vem tomando uma queda, principalmente nessa categoria de populares. Até mesmo na procura dos meus serviços, é muito baixa a demanda por Ford. Recebo, muitas vezes, procura por caminhonetes, agora, sobre categorias de entrada. Já tem um tempinho que a Ford ficou muito para trás, e os concorrentes acabaram ficando melhores”.

*Estagiária sob supervisão de Andreia Castro

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