O diretor de política monetária do Banco Central (BC), Bruno Serra, minimizou o fato de a inflação oficial brasileira ter ficado acima do centro da meta de 4% no ano passado. Ele argumentou que a taxa de 4,52%, anunciada nesta terça-feira (12/1), é melhor que as projeções realizadas no auge da crise de covid-19, que apontavam para uma inflação próxima a 2% em 2020.
"A gente está entregando uma inflação acima do centro da meta, que nunca é desejável. Mas, como a gente está sempre perseguindo o centro da meta, que era de 4% em 2020, 4,5% é espetacularmente melhor que os 2,1% que a gente imaginava no final de setembro", avaliou Bruno Serra, em live realizada nesta terça-feira com o mercado financeiro, pouco depois de o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgar a inflação brasileira em 2020.
Serra lembrou que o próprio Banco Central chegou a projetar uma inflação de 2,1%, abaixo do piso da meta, no ano passado. E explicou que o cenário econômico melhorou nos últimos seis meses, após o choque inicial da pandemia de covid-19. Outra prova disso, segundo o diretor, é a revisão das projeções de queda da economia brasileira: no início da pandemia, analistas de mercado chegaram a projetar um tombo de 9% do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil; mas, hoje, o consenso é de que o baque será próximo de 4%.
Inflação de 2021
O BC vem dizendo que a alta da inflação é temporária, tanto que o mercado espera que a taxa desacelere para 3,34% neste ano. Nesta terça-feira, contudo, Bruno Serra admitiu que o dólar e as commodities têm subido um pouco mais do que o esperado neste início de ano e podem, portanto, afetar o cenário inflacionário de 2021. "É um risco que vai ter que avaliar nos próximos ciclos", disse, ao ser questionado sobre o assunto por agentes de mercado.
O diretor reconheceu ainda que o real tem se desvalorizado mais que outras moedas perante o dólar neste início do ano. E creditou o movimento ao risco fiscal brasileiro, que, segundo Serra, só deve se dissipar após a votação do Orçamento de 2022 indicar qual será o rumo das contas públicas brasileiras, mas também do atual patamar da taxa básica de juros (Selic).
A Selic está na mínima histórica de 2% ao ano, um patamar que, de acordo com o diretor do BC, é adequado para o atual momento de pandemia, mas não será permanente. A expectativa do mercado é que a Selic volte a subir neste ano, mas Serra indicou que possíveis ajustes só devem ser implementados após a resolução do impasse fiscal brasileiro.