O governo Jair Bolsonaro quer atrair investimentos diretos do Japão no Brasil. O tema foi discutido nesta sexta-feira, dia 8, em visita oficial do ministro de Negócios Estrangeiros japonês, Motegui Toshimitsu. O ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, falou sobre o objetivo de chegar a um acordo comercial e de investimentos, durante cerimônia no Itamaraty.
"Vamos aprofundar o diálogo sobre encontrar a melhor maneira de criar uma verdadeira parceria comercial e de investimentos entre Brasil e Japão", disse o chanceler Ernesto Araújo. "O Japão é hoje o maior investidor do mundo, o país que mais emite investimentos diretos no mundo. Qualquer acordo, qualquer aproximação deve não apenas tratar o Japão como mercado para nossas exportações, mas também a importância do Japão como emissor de investimentos, um investidor que pode ser decisivo para nossa transformação econômica."
Araújo citou a possibilidade de cooperação na área agrícola, industrial e de alta tecnologia digital "favorável a nosso modelo de sociedade democrática, com liberdade e segurança". Embora não tenha mencionado o leilão do 5G, previsto para o primeiro semestre deste ano pelo governo, o Japão é um dos países que tenta promover empresas e um modelo próprio como alternativa à rede de telecomunicações de origem chinesa.
Ernesto Araújo disse que os dois países estão alinhados em foros multilaterais como a OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico), Organização Mundial do Comércio (OMC) e ONU (Organização das Nações Unidas).
Um embaixador que participou das conversas disse que não está claro ainda se o Japão aceitará abrir uma negociação com o Mercosul ou direto com o Brasil. Segundo ele, o governo deve acelerar a aproximação com os japoneses e colocar o Brasil como prioridade no planejamento de expansão de negócios do país asiático. Os japoneses, segundo o diplomata, buscam "retornos seguros" e não necessariamente "extraordinários".
Brasil e Japão lançaram no fim do ano passado um "diálogo trilateral" político com os Estados Unidos, a Jusbe, mas os chanceleres evitaram comentar o caso da invasão no parlamento norte-americano por apoiadores do presidente Donald Trump e a transição de poder na Casa Branca para o presidente eleito, Joe Biden.
O ministro Toshimitsu afirmou esperar que as reformas econômicas do governo Bolsonaro melhorem o ambiente de negócios para empresas japonesas no País e as possibilidades de investimento.
Toshimitsu discutiu durante almoço no Itamaraty com Araújo sobre questões geopolíticas regionais de interesse do Japão e da China, maior parceiro comercial do Brasil desde 2009. Os dois países têm uma série de conflitos históricos, sendo um deles as disputas pelo Mar da China Meridional, área de frequentes exercícios militares, reivindicada por Pequim e países do Sudeste Asiático.
O chanceler japonês disse que conta com o Brasil para manter uma ordem internacional "livre e aberta". Ele disse que os dois países "compartilham direitos fundamentais como Estado de direito, democracia, direitos humanos".
Os ministros também falaram sobre a Coreia do Norte e o caso do sequestro de cidadãos japoneses pelo serviço secreto comunista de Pyongyang, ocorrido nos anos 1970 e 1980.
O poder de influência do Brasil nessas questões é considerado mínimo por diplomatas, mas são temas caros ao Japão e que podem influenciar na campanha dos dois países, ao lado de Índia e Alemanha, pela reforma do Conselho de Segurança das Nações Unidas.
Por outro lado, os ministros conversaram sobre a situação política da Venezuela, de interesse direto do Brasil.
"Nossa relação está sendo elevada ao patamar que necessita e merece, uma relação fundamental para o Brasil, para nosso desenvolvimento e maior presença no mundo. O Japão é um parceiro fundamental para o processo de transformação que o Brasil está vivendo, uma economia moderna, e a consolidação de uma verdadeira democracia, a e presença no mundo como País democrático, aberto, e que trabalha para um mundo com mais liberdade para todos", disse Araújo.
Além disso, os dois chanceleres assinaram acordos de cooperação para exploração de metais como nióbio e grafeno, cujo desenvolvimento é incentivado por Bolsonaro, um memorando de entendimentos sobre uso da biodiversidade da Amazônia, e outros instrumentos para melhorar a capacidade de reação a desastres naturais, desenvolver sensores e agricultura de precisão, controlar de desmatamento ilegal na Amazônia por meio de radares de abertura sintética e inteligência artificial.
Motegui Toshimitsu foi o primeiro chanceler a visitar o País desde a pandemia do novo coronavírus. Ele foi recebido pelo presidente Jair Bolsonaro no Palácio do Planalto.