Bolsa bate máxima histórica

INVESTIMENTOS / Após preocupação com a invasão do Congresso americano, investidores se animam com confirmação da vitória de Joe Biden e a perspectiva de novo pacote de estímulos econômicos. Avanço das vacinas também ajuda na alta

» Israel Medeiros*

Após um longo ano de 2020, quando chegou a cair aos 63 mil pontos, em março, e uma recuperação gradual de 92% em nove meses, o Ibovespa, principal termômetro dos negócios na Bolsa de Valores de São Paulo (B3) alcançou, ontem, seu maior patamar. O indicador fechou em 122.386 pontos, com alta de 2,76% no dia. O recorde anterior, de 119.527 pontos, era de 23 de fevereiro de 2020, quando ainda não havia casos confirmados do novo coronavírus no Brasil.


Na quarta-feira, o índice chegou a visitar os 120 mil pontos, renovando a máxima intradiária, mas se enfraqueceu no fim da tarde, como reflexo da invasão do Congresso dos Estados Unidos por partidários do presidente Donald Trump. Ontem, porém, após o legislativo norte-americano retomar os trabalhos e confirmar a vitória do democrata Joe Biden nas eleições de novembro, Trump prometeu uma transição ordeira. Era tudo o que faltava para as bolsas recuperarem o fôlego.


Em Nova York, o índice S&P 500 subiu 1,48%. Já o Dow Jones teve variação positiva de 0,69%. O mercado brasileiro acompanhou o movimento, acreditando que a confirmação da vitória de Biden significará mais estímulos econômicos, explicou Renan Silva, economista-chefe da Bluemetrix Ativos.


“A confirmação de Biden implica que os estímulos estão mantidos. Adicionalmente, a chegada das vacinas é fundamental, pois gera uma boa perspectiva geral na

economia no médio e no longo prazos. O mercado já enxerga uma retomada”, comentou.
Apesar da preocupação com o possível aumento de impostos que pode ser necessário para sustentar o pacote de estímulos, Silva avalia que a injeção de recursos resultará em mais compra de ações em mercados emergentes, como o Brasil. “Aqui do nosso lado, o câmbio pode dar uma aliviada com isso. Mas, no longo prazo, é uma situação que não se sustenta porque, na verdade, o estímulo se traduz em uma moeda sem lastro”, alertou.

Dólar

No câmbio, o dólar destoou do movimento na B3 e fechou a quinta-feira em alta expressiva, de 1,82%, aos R$ 5,39. Mauricio Battaglia, chefe de operações estruturadas da Órama Investimentos, afirmou que a alta refletiu um movimento global de valorização da moeda norte-americana. “O dólar ficou mais forte, principalmente, frente às divisas de emergentes. Além do fato de que, aqui no Brasil, temos outros problemas, como as falas polêmicas do presidente Bolsonaro. Mas houve um ajuste global de fortalecimento do dólar. Parece contraditório a bolsa subir e dólar também, mas o motivo é essa tendência global”, disse.
Na Bolsa, ele ressaltou o desempenho de ações de bancos e papéis relacionados ao minério de ferro. "O minério de ferro não para de subir, porque a China virou um canteiro de obras. Os papéis da Companhia Siderúrgica Nacional subiram 6,44% nesta quinta. A Vale, há uma semana, estava a R$ 65 e, agora, está R$101. As ações de bancos também estão andando muito”, disse.