Após chegar aos 63 mil pontos em março de 2020 e registrar uma recuperação gradual de 92% em nove meses, o índice Ibovespa alcançou o maior patamar da história nesta quinta-feira (7), aos 122.385 pontos, com alta de 2,76%. O recorde anterior era do dia 23 de fevereiro de 2020, quando ainda não havia casos confirmados do novo coronavírus no Brasil. Na ocasião, a bolsa bateu os 119.527 pontos.
Na quarta-feira, o índice chegou a visitar os 120 mil pontos, renovando a máxima intradiária. Mas, quando era fim de tarde no Brasil, e a bolsa se aproximava do fim do pregão, os protestos a favor do presidente americano Donald Trump se intensificaram em Washington e viraram selvageria. Manifestantes com vestimentas pró-Trump invadiram o Congresso Americano quebrando janelas e ocupando escritórios. O objetivo era atrapalhar a cerimônia de reconhecimento da vitória do democrata Joe Biden nas eleições presidenciais.
O ato resultou em quatro mortes. O clima de incerteza política tomou conta dos noticiários americanos. Investidores então ficaram preocupados com a estabilidade da principal economia do mundo. De madrugada, o Congresso retomou os trabalhos e reconheceu a vitória de Biden. O presidente Trump, então, reconheceu sua derrota e prometeu uma transição ordeira. Era tudo o que faltava para as bolsas recuperarem o fôlego.
Dow Jones
Lá fora, o índice estadunidense S&P 500 subiu 1,48%. Já o Dow Jones teve variação positiva de 0,69%. O mercado brasileiro, então, acompanhou o movimento, acreditando que a confirmação da vitória de Biden significará mais estímulos econômicos. É o que explica Renan Silva, economista-chefe da Bluemetrix Ativos.
"Se os protestos tivessem êxito em adiar a confirmação da vitória de Biden, isso colocaria em suspeita os estímulos propostos por ele para a economia. Contudo, depois que a situação foi contornada, o mercado se acalmou. A confirmação de Biden implica que os estímulos estão confirmados e, adicionalmente, a chegada das vacinas é fundamental, pois isso gera uma boa perspectiva geral da economia pelo menos no médio e longo prazo. O mercado já enxerga uma retomada", comenta.
Vale lembrar que aqui no Brasil, o presidente Jair Bolsonaro assinou uma medida provisória permitindo a compra de seringas em caráter emergencial, o que dispensa a necessidade de licitações. Além disso, o ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello, anunciou a compra de mais de 100 milhões de doses da CoronaVac, vacina desenvolvida pelo Butantan e pela chinesa Sinovac Biotech.
Aumento de impostos
Renan Silva pontua, no entanto, que as medidas prometidas pelo presidente eleito nos EUA podem vir às custas de um aumento de impostos. "De fato, preocupa. A gente entende que no cenário doméstico, essas políticas não favorecem muito a economia. Há uma tendência de aumento de despesas, com programas de auxílio e assistência. Isso resulta em aumento de impostos, o que não é interessante agora", afirma.
O especialista avalia, no entanto, que a injeção de recursos, em geral, resulta em mais compra de ações de agentes econômicos em mercados emergentes, como é o caso do Brasil. "Aqui do nosso lado, o câmbio pode dar uma aliviada com isso. Mas, no longo prazo, é uma situação que não se sustenta porque na verdade o estímulo se traduz em uma moeda sem lastro", alerta.
Já Mauricio Battaglia, chefe de operações estruturadas da Órama Investimentos, destaca que a sintonia entre poder executivo e legislativo nos EUA podem permitir que o país se realinhe com as políticas globais. Vale lembrar que na última quarta-feira, a apuração dos votos na Geórgia resultou em duas vitória democratas, o que deu ao partido o controle do Senado. Uma vez que a Câmara dos Deputados também tem maioria democrata, a tendência é que Biden consiga aprovar medidas com facilidade.
Câmbio em alta
No câmbio, o dólar destoou do movimento na B3 e fechou em alta expressiva, de 1,82%, aos R$5,39. Battaglia afirma que isso se deu graças a um movimento de valorização do dólar. "A moeda americana ficou mais forte, principalmente frente aos emergentes. Além do fato de que, aqui no Brasil, temos outros problemas, como as falas polêmicas do presidente. Mas houve um ajuste global de fortalecimento do dólar. Parece contraditório a bolsa subindo e dólar também, mas o motivo é essa tendência global", disse.
Ele ressalta, ainda, o desempenho de ações de bancos e papéis relacionados ao minério de ferro. "O minério de ferro não para de subir, porque a China virou um canteiro de obras. Os papéis da Companhia Siderúrgica Nacional subiram 6,44% nesta quinta. A Vale há uma semana tava a R$65 reais e agora está R$101. As ações de bancos também estão andando muito. A impressão que eu tenho é que a gente vai precisar ser mais seletivo para comprar ações. Alguns setores estão largados e vale a pena dar uma olhadinha", completa.
*Estagiário sob a supervisão de Carlos Alexandre de Souza